Até mesmo o BRIT Awards entrou no clima de “Brat” com Charli XCX, a cantora, compositora e produtora que dominou 2024 com seu álbum e levou para casa cinco prêmios na principal cerimônia de música do Reino Unido. Apesar de seu sucesso estrondoso (e esperado) após uma enxurrada de memes e o fenômeno do “Brat Summer”, a decisão de Charli de não se apresentar em sua grande noite de celebração no O2 Arena — mesmo estando presente e tendo performado no Grammy no mês anterior — foi, sem dúvida, uma decepção para os organizadores do evento. A noite, que já carecia de estrelas britânicas de renome global, teve no humor de Jack Whitehall, o apresentador, um alívio. Ele brincou que a escolha de Charli de não tocar ao vivo para “ficar bêbada” foi a coisa mais britânica possível.
Mesmo assim, Charli — também eleita a Hitmaker do Ano pela Variety em 2024 — dominou a cerimônia, subindo ao palco várias vezes para receber prêmios de Melhor Artista, Melhor Álbum, Melhor Canção e Melhor Atuação de Dança, conquistando quatro das cinco indicações, além do prêmio de Compositora do Ano, anunciado anteriormente. Seu colaborador de longa data, A.G. Cook, também levou o prêmio de Produtor do Ano. O sucesso de Charli deu um foco especial à noite, e ela usou seus discursos para homenagear seus ídolos da música eletrônica e até brincar que a ITV “reclamou dos meus mamilos”. Ela guardou o melhor discurso para o final, afirmando que sempre se sentiu uma outsider na indústria britânica e celebrando seu sucesso como “prova viva de que você não precisa comprometer sua visão — se você fizer sua própria coisa e fizer bem, as pessoas vão estar com você”.
No entanto, os grandes nomes britânicos não estavam ao seu lado. Os Beatles até apareceram nas indicações (sem sucesso, com Whitehall brincando: “Continuem tentando, rapazes”), mas sem Adele, Ed Sheeran, Coldplay ou Dua Lipa — e sem sinal de Oasis, apesar das provocações constantes de Whitehall —, coube à nova geração de artistas britânicos brilhar no palco.
Primeiro, porém, houve uma ajudinha de amigos do outro lado do Atlântico. Surpreendentemente, Sabrina Carpenter — que os organizadores estavam tão ansiosos para ter no palco que criaram o prêmio “Sucesso Global” para atraí-la — abriu o show com “Espresso”, acompanhada por uma tropa de guardas inspirados na Royal Horse Artillery, com Carpenter vestindo um traje militar que certamente não passaria em uma inspeção. Ela manteve o clima ousado na próxima performance, com “Bed Chem”, antes de desaparecer por um alçapão com um dos soldados. Em seu discurso de aceitação, ela agradeceu ao “país predominantemente bebedor de chá” por tornar “Espresso” um sucesso estrondoso.
Em seguida, Teddy Swims — vestido como um edredom, mas com uma voz suave como seda — deslizou por um medley, terminando com “Lose Control”, que até fez as mesas da indústria cantarem junto. Depois de todo o glamour americano, era hora de mostrar a verdadeira essência britânica. E, após um 2024 bastante fraco, o Reino Unido finalmente tem alguns nomes prontos para brilhar internacionalmente. Myles Smith, premiado com o BRITs Rising Star, encantou com “Nice to Meet You” e “Stargazing”, mas se destacou mesmo no discurso, criticando o governo e a indústria. Já Lola Young, com seu hit “Messy”, entregou o momento musical mais marcante da noite, confirmando seu lugar como uma nova estrela no cenário britânico.
Sam Fender, vencedor de Melhor Atuação de Rock/Alternativo, já era um herói local antes mesmo da cerimônia, com seu álbum “People Watching” estreando em primeiro lugar nas paradas. Sua performance foi um aquecimento para o que pode ser um ano ainda maior em 2025. Se ele conseguir conquistar os EUA, o futuro da música britânica pode ficar muito mais brilhante.
Apesar das celebrações, havia um ar de nervosismo entre os executivos da indústria presentes. Com grandes mudanças nas gravadoras e uma seca de sucessos internacionais, o medo de o Reino Unido se tornar apenas um posto avançado da indústria americana nunca pareceu tão real. O futuro depende de reativar o fluxo constante de novos talentos, e a noite pode ter sido o pontapé inicial para essa reação.
Entre os performers, Jade Thirlwall (agora apenas Jade) se destacou com “Angel of My Dreams”, enquanto The Last Dinner Party continuou a desafiar os céticos com uma performance que misturava Kate Bush e Freddie Mercury. Ezra Collective, o primeiro grupo de jazz a vencer e se apresentar no BRITs, fechou a noite com uma colaboração vibrante com Jorja Smith, mesmo com o público já começando a mudar de canal.
No final, o BRITs 2024 mostrou que, apesar de um ano fraco para a música britânica, há esperança no horizonte. Com novos talentos emergindo e alguns dos grandes nomes prestes a retornar, 2025 pode ser um ano muito diferente. Enquanto a indústria seguia para after-parties luxuosas, a pergunta que ficou no ar foi: como transformar um “Brat Summer” em quatro estações de sucesso britânico? Veremos…
Vencedores do BRITs 2025:
- Prêmio Sucesso Global – Sabrina Carpenter
- Compositora do Ano – Charli XCX
- Produtor do Ano – A.G. Cook
- BRITs Rising Star – Myles Smith
- Atuação de R&B – Raye
- Atuação de Pop – Jade
- Atuação de Hip-hop/Grime/Rap – Stormzy
- Atuação de Dança – Charli XCX
- Atuação de Rock/Alternativo – Sam Fender
- Canção Internacional do Ano – Chappell Roan, “Good Luck, Babe!”
- Grupo Internacional do Ano – Fontaines D.C.
- Artista Internacional do Ano – Chappell Roan
- Grupo do Ano – Ezra Collective
- Melhor Novo Artista – The Last Dinner Party
- Canção do Ano com Mastercard – Charli XCX, “Guess”
- Artista do Ano – Charli XCX
- Álbum do Ano com Mastercard – Charli XCX, “Brat”
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
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