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Diretor Duplo Tarzan e Arab Nasser Fala Sobre “Uma Vez por Nada em Gaza”

Diretor Duplo Tarzan e Arab Nasser Fala Sobre "Uma Vez por Nada em Gaza"

Os irmãos gêmeos Tarzan e Arab Nasser, nascidos em Gaza, estão de volta ao Festival de Cannes com “Era Uma Vez em Gaza”, uma releitura do gênero western que, embora não seja explicitamente político, chega em um momento mais do que oportuno — começando pelo próprio título. O filme, que estreia na seção Un Certain Regard, foi concebido muito antes do atual conflito entre Israel e o Hamas. A trama acompanha Yahya, um jovem estudante, e Osama, um traficante carismático que vende drogas em uma lanchonete de falafel, enquanto ambos enfrentam um policial corrupto e arrogante.

“Era Uma Vez em Gaza” é o terceiro longa dos irmãos Nasser, depois de “Dégradé” (exibido na Semana da Crítica de Cannes em 2015) e “Gaza Mon Amour” (indicado pelo Palestina ao Oscar em 2021). Em entrevista à Variety, os diretores, que hoje vivem na França, falam sobre os desafios de finalizar o filme em meio à tragédia que assola sua terra natal.

Como surgiu a ideia do filme?

Começamos a escrever o roteiro em 2015 e passamos anos refinando a história. Queríamos retratar Gaza com a estética de um western, mas ao mesmo tempo mostrar o cotidiano real de seus habitantes através de dois ou três personagens. Claro, a Gaza de hoje não se parece em nada com a do filme. Será que isso nos preocupa? Qualquer história sobre Gaza hoje soa como um “era uma vez”, porque Gaza praticamente deixou de existir. Quando escolhemos o título, porém, ainda não havia o genocídio que vemos agora. Na época, até nos perguntávamos: por que “Era Uma Vez em Gaza”? Bem, é um título universal — há “Era Uma Vez em Hollywood”, “no Oeste”, “na Anatólia”… Por que não em Gaza? Agora, diante da destruição, o título ganhou um significado ainda mais forte. Fala de um povo que tenta sobreviver em meio aos escombros.

O filme tem um subtexto político?

Sempre buscamos fazer cinema puro. Mas em Gaza — e na Palestina como um todo — é impossível fugir da política, porque ela dita a vida das pessoas. No início, queríamos apenas criar um western, uma obra cinematográfica. Por isso, escolhemos três arquétipos: o bom, o mau e o vilão. Mas, com o que acontece hoje, não dá para desvincular o filme de seu contexto. A palavra “Gaza” virou sinônimo de conflito. Incluímos até a declaração de Trump sobre o “Riviera de Gaza” e referências aos bombardeios israelenses.

Como foi finalizar o filme durante a guerra?

Passamos anos escrevendo e, em 6 de outubro de 2023, achamos que estava pronto. Comemoramos com dois amigos, um deles recém-chegado de Gaza, que nos contou como a situação lá já era desesperadora. Depois do dia 7, ficamos cinco meses paralisados, assistindo à TV e ligando para nossa família no norte de Gaza. Até que decidimos: “Precisamos voltar ao roteiro”. Percebemos que o filme fala sobre a história que se repete, sobre um povo sem opções, sem horizonte, mas que nunca se rende. Eles continuam. Sobrevivem. Essa é a verdadeira política por trás do filme.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
GAZA: CONFLITO OU ESPERANÇA?
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