Construir uma indústria cinematográfica do zero não é tarefa simples. Mas, em apenas oito anos, a Arábia Saudita — que só reabriu seus cinemas em 2018 — transformou seu setor audiovisual em um competidor respeitado globalmente. Hoje, o reino conta com instituições dedicadas ao desenvolvimento do cinema, como a Comissão Saudita de Cinema e a Associação de Cinema, além de centros culturais que impulsionam essa transformação, como o King Abdulaziz Center for World Culture, conhecido como Ithra (que significa “enriquecimento” em árabe).
O Ithra é o principal polo cultural do país, focado em fomentar criativos e indústrias criativas, incluindo cineastas e o cinema. Por meio de programas e iniciativas, tem oferecido oportunidades e plataformas para uma nova geração de contadores de histórias.
“Vemos a cultura não apenas como algo a ser preservado, mas como algo a ser moldado”, diz Noura Alzamil, chefe de programas do Ithra. “Desde nossa inauguração em 2018, somos um lar para criativos, um espaço onde artistas, cineastas, pensadores e público se reúnem para dialogar e quebrar barreiras. Orgulhamo-nos de estar no centro da transformação cultural do reino, e o cinema é peça-chave nessa história.”
Alzamil acredita que o cinema tem o poder único de refletir a humanidade e a sociedade, enquanto alimenta a imaginação e a inovação para um futuro melhor. “O filme também é um convite para conectar-se com outras culturas, abraçando a curiosidade e a exploração”, destaca. “No Ithra, nosso objetivo é criar impacto significativo, enriquecendo vidas por meio da cultura e da criatividade.”
Além do Ithra, a Associação de Cinema da Arábia Saudita, uma organização sem fins lucrativos ligada ao governo, promove a cultura cinematográfica no país. Parceira de longa data do Ithra, a associação organiza o Festival de Cinema Saudita, que chegou à sua 11ª edição este mês em Dhahran.
Juntos, Ithra e a Associação de Cinema, com apoio da Comissão Saudita de Cinema, elevam o audiovisual local e consolidam a indústria como competitiva no cenário global. “Nossa parceria com a associação é um exemplo de como a colaboração institucional gera impacto”, afirma Alzamil. “O festival tem sido pioneiro na promoção do cinema saudita desde 2008, e o Ithra entrou como parceiro estratégico em 2014. Juntos, transformamos o evento em uma plataforma de destaque para a expressão cinematográfica no reino.”
Lançado em 2008, antes mesmo da legalização dos cinemas no país, o festival hoje inclui um mercado de produção, exibições, masterclasses e debates. Realizado no impressionante espaço de 860 mil pés quadrados do Ithra, tornou-se o principal evento do gênero no país, atraindo mais de 198 mil visitantes até hoje.
Além das exibições, o festival é um trampolim para novos talentos, oferecendo mentoria, networking e oportunidades para apresentar projetos. “Apoiamos desde curtas de estreia a longas premiados, conectando profissionais de todas as áreas do cinema”, diz Alzamil. “Criamos caminhos para que essas histórias ganhem vida e alcancem públicos além da região. O ecossistema cresce porque está enraizado em um propósito comum: contar histórias que importam.”
Este ano, o festival destacou o cinema japonês e explorou o tema “Cinema da Identidade”, com foco em transformações culturais e arquitetônicas. Essa reflexão espelha a reinvenção saudita do cinema e da cultura como forças que se alimentam mutuamente.
O festival já lançou carreiras de nomes como o diretor Abdulaziz Alshlahei (“Zero Distance”, “The Travellers”) e atores como Aixa Kay e Shahad Ameen. “Buscamos ideias ousadas e histórias originais, culturalmente enraizadas e criativamente ambiciosas”, afirma Alzamil sobre o processo de seleção de projetos. “Apoiamos obras que desafiam percepções e estimulam diálogos.”
O Ithra não apenas financia, mas acompanha os criativos em todas as etapas — desde laboratórios de roteiro até a exibição em festivais internacionais. “Queremos construir não apenas filmes, mas uma cadeia sustentável de contadores de histórias que levem vozes sauditas ao mundo”, ressalta Alzamil.
Um dos destaques do festival é seu Mercado de Produção, realizado no Grande Salão do Ithra, onde profissionais se conectam e formam parcerias. Mas, como enfatizam os representantes do centro, o objetivo vai além dos negócios: é enriquecer vidas por meio da cultura.
O crescimento da indústria cinematográfica no reino faz parte do ambicioso Vision 2030, plano de diversificação econômica e cultural da Arábia Saudita. Em 2023, o Mercado de Produção recebeu 1.444 inscrições e 289 projetos. “Queremos inspirar a próxima geração de cineastas, incluindo-os no sucesso dos que vieram antes e oferecendo plataformas de troca significativas”, diz Alzamil. “Assim é que o ecossistema criativo cresce: com visibilidade, oportunidade e confiança.”
Passo a passo, graças ao investimento de instituições como Ithra e a Associação de Cinema, esses objetivos estão redefinindo o significado da cultura na Arábia Saudita moderna. “O festival se tornou um evento cultural e industrial de referência, dando aos cineastas um palco para compartilhar suas obras e construir conexões”, conclui Alzamil. “O Ithra seguirá contribuindo para o cenário criativo do reino, apoiando talentos e fomentando o diálogo intercultural, para que sua criatividade seja celebrada mundialmente.”
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
CRESCIMENTO SAUDITA, CERTO?
SIM