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Lloyd Lee Choi e os Desafios da Classe Trabalhadora em “Lucky Lu”

Lloyd Lee Choi e os Desafios da Classe Trabalhadora em "Lucky Lu"

Não é preciso ser um gênio para fazer cinema, mas o roteirista e diretor Lloyd Lee Choi quase seguiu um caminho bem diferente antes de estrear seu primeiro longa-metragem, “Lucky Lu”, que será exibido no Directors’ Fortnight de Cannes em 19 de maio. “Aos 17 anos, fui aceito no curso de engenharia aeroespacial da Ryerson University e estava prestes a ingressar, mas, no último momento, tive uma crise existencial”, revela Choi. “Muitos jovens asiático-americanos e filhos de imigrantes, como eu, vão se identificar. Seria uma vida segura e confortável, mas não parecia certo. Então, me inscrevi em uma faculdade de artes liberais em Vancouver e acabei morando com estudantes de cinema no dormitório. Eles me envolveram na produção de filmes estudantis, e eu me apaixonei pelo processo.”

Outro momento decisivo para Choi foi descobrir por acaso o drama brasileiro “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e Kátia Lund. Assim como “Lucky Lu” e seus cineastas favoritos, os irmãos Dardenne, o filme explora a vida da classe trabalhadora e das “pessoas à margem da sociedade”. “Aquilo me chocou e abriu meus olhos para histórias fora da minha bolha”, diz ele. Bem, não totalmente: “Meus pais tiveram aquela experiência clássica de imigrantes, chegando aqui sem quase nada”, acrescenta. “Eles administraram uma loja de conveniência por anos, e meu avô trabalhou em vários empregos braçais para sobreviver, então eu entendi bem essa luta e o desejo profundo de prover para os filhos.”

Tudo isso influenciou o retrato que Choi faz de Lu (interpretado por Chang Chen, jurado em Cannes em 2018), um imigrante em Nova York cuja frágil rotina como entregador desmorona quando sua bicicleta elétrica é roubada. Em uma corrida contra o tempo, Lu procura pelo veículo e pelo dinheiro necessário para pagar um novo apartamento enquanto sua esposa e filha, de quem está distante há anos, chegam de Taipei.

Criado em Toronto, o coreano-canadense Choi, que já dirigiu vários comerciais, mudou-se para Nova York alguns anos antes da pandemia. “A cidade basicamente sobrevivia de entregas de comida, e os entregadores de repente viraram trabalhadores essenciais”, conta. “Ao ver todos aqueles rostos diferentes entregando comida, comecei a imaginar os sacrifícios que faziam não só para alimentar a cidade, mas para sobreviver.” Essa reflexão inspirou seu curta “Same Old” (2022), indicado à Palma de Ouro e adaptado para “Lucky Lu”. Seu outro curta, “Closing Dynasty” (2023), também ambientado em Nova York e abordando pobreza, ganhou prêmios em Berlim, SXSW, AFI Fest e outros festivais.

“Lucky Lu” lembra o drama neorrealista italiano “Ladrões de Bicicleta” (1948), de Vittorio De Sica, pelo tom emocional, suspense e momentos sentimentais na relação do protagonista com sua filha. Choi levou dois meses para encontrar Carabelle Manna, de 7 anos, que interpreta Queenie, a filha de Lu. “Ela nunca tinha atuado antes, mas fico feliz por termos arriscado”, diz ele. “Ela realmente faz o filme.” A fotografia também se destaca, capturando a atmosfera sombria do Chinatown durante 22 dias de filmagem sob chuva e frio.

Choi, representado pela WME e Canopy Media Partners, já tem mais dois projetos em mente: um drama esportivo sobre “um pai e filho coreano-americanos e a ascensão e queda de um golfista prodígio”, e um thriller mistério sobre maternidade na Coreia, com outro entregador como protagonista. Mas não espere que ele se afaste muito de suas raízes indie. “O filme do golfista está mais para ‘Whiplash’ do que para ‘Happy Gilmore'”, ele ri.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
EXPLORAÇÃO: “LUCKY LU” REFLETE A REALIDADE?
PARCIALMENTE

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