O documentário canadense “Yintah” conquistou o prêmio principal do júri na 22ª edição do festival Millennium Docs Against Gravity, levando para casa 8 mil euros. O evento, que aconteceu em Varsóvia e em outras seis cidades polonesas, encerrou sua programação em 18 de maio. O filme retrata a luta de uma nação indígena do Canadá pela soberania de suas terras, ameaçadas pela construção de oleodutos e gasodutos. Dirigido por Brenda Michell, Michael Toledano e Jennifer Wickham, o documentário mostra a resistência do povo Wet’suwet’en em defender seu direito ao território. O júri descreveu a obra como “uma experiência cinematográfica dolorosamente bela, que nos desafia a imaginar e praticar a resistência antes que seja tarde demais”.
Outro destaque foi “Bedrock”, de Kinga Michalska, que levou o prêmio de melhor filme polonês. A obra, seu primeiro longa, aborda a vida de poloneses que residem em locais marcados pelo Holocausto. Temas como história, genocídio, resistência e resiliência permearam as discussões entre os cineastas presentes no festival. A iraniana Farahnaz Sharifi apresentou “My Stolen Planet”, um registro em estilo diário sobre sua vida sob o rígido código islâmico no Irã. Já “Riefenstahl”, de Andres Veiel, gerou debates ao explorar os laços da cineasta alemã Leni Riefenstahl com o regime nazista.
A competição principal também reuniu produções aclamadas em outros festivais, como “Come See Me in the Good Light” (Sundance), “A Want in Her” (IDFA) e “Apocalypse in the Tropics” (Venice). A curadoria, que mesclou obras recentes como “Mr. Nobody Against Putin” com filmes já consagrados, reforçou o prestígio do Millennium Docs Against Gravity como um dos melhores festivais de documentário do mundo.
A programação paralela incluiu clássicos do gênero, como “5 Broken Cameras” (2011), indicado ao Oscar e dirigido por Guy Davidi e Emad Burnat, que ganhou nova relevância diante da guerra em Gaza. Outro destaque foi “Kingmaker” (2018), de Lauren Greenfield, que traça um paralelo entre a ascensão política de Imelda Marcos e eventos recentes nos EUA.
O festival também promoveu eventos especiais, como uma exposição fotográfica de Ernest Cole, vinculada ao documentário “Ernest Cole: Lost and Found”, de Raoul Peck. A comediante Noam Shuster-Eliassi atraiu o público jovem com seu stand-up, cuja renda foi revertida para instituições em Gaza.
A atmosfera acolhedora do festival cativa tanto veteranos quanto estreantes. “Estive aqui em 2010 com ‘Gunnar Goes God’ e me apaixonei pelo clima do evento. Há uma paixão genuína pelo cinema, não pelo dinheiro”, disse Gunnar Hall Jensen, que retornou 15 anos depois com “Portrait of a Confused Father”. Opal H. Bennett, produtora do POV, também elogiou: “Fiquei impressionada com a curadoria e a produção. Descobri não apenas Varsóvia, mas também sua sensibilidade para o documentário”.
Com uma seção industrial em expansão e público cada vez mais engajado, o Millennium Docs Against Gravity consolida-se como um evento imperdível para os amantes do cinema não ficcional.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
PRÊMIO: ‘YINTAH’ MERECE O RECONHECIMENTO?
SIM