Quando o cantor e compositor Mike Hadreas, conhecido artisticamente como Perfume Genius, se senta no divã do terapeuta, confessa que muitas vezes não sabe por onde começar a desvendar seus próprios sentimentos. Algo compreensível para um artista que, ao longo de seis álbuns em 15 anos de carreira, trabalhou majoritariamente sozinho. Mas em seu mais recente trabalho, Glory, Hadreas decidiu abrir não apenas sua voz e emoções, mas também seu processo criativo, resultando no que ele mesmo chama de seu primeiro álbum “de banda”, com participações de nomes como Aldous Harding e seus colaboradores de longa data, Blake Mills e Alan Wyffels.
“Não sei se foi algo consciente, mas fazia sentido que as músicas fossem construídas de forma mais colaborativa do que nos discos anteriores”, explica Hadreas em entrevista à Variety. Apesar disso, o álbum mergulha em temas como isolamento e solidão — tanto que, para começar a compor, ele precisou ficar completamente sozinho enquanto seu parceiro, Wyffels, estava fora da cidade. “Fiquei em casa, sem ligar as luzes e com as cortinas fechadas. Só assim consegui mergulhar de verdade”, revela. “Quando não há ninguém por perto, consigo seguir todos os meus impulsos criativos.”
Diferentemente de trabalhos anteriores, onde Hadreas revisitava memórias e passado, Glory é um registro do presente. Em faixas como It’s a Mirror, ele explora a coragem e a confiança que só sente no palco ou durante o processo de escrita — uma contradição que o persegue na vida cotidiana. “Há tantas coisas que eu poderia fazer pela minha saúde, para ser um amigo melhor ou mais presente, mas quando estou em casa, acabo entrando num modo de autopreservação”, admite.
Além do novo álbum, Hadreas também falou sobre suas experiências compondo trilhas sonoras para filmes, como My First Film, de Zia Anger, e National Anthem, de Luke Gilford. “É um desafio equilibrar minha identidade artística com a visão do diretor”, reflete. Outra parceria importante é com o diretor Cody Critcheloe, responsável pelo icônico clipe de Queen, que retomou a colaboração com Hadreas nos vídeos de It’s a Mirror e No Front Teeth. “Confio nele completamente. Temos uma conexão visceral, quase infantil, mas ao mesmo tempo intensa e sem filtros.”
Questionado sobre seu impacto na comunidade LGBTQ+, Hadreas não hesita: “Sempre senti uma responsabilidade em ser autêntico. Quando percebi que as pessoas estavam ouvindo minhas músicas, sabia que não poderia suavizar ou censurar nada do que precisava expressar.” Em tempos de ataques contra pessoas trans, ele reforça a importância da união. “Não podemos depender de sistemas para nos proteger. Cuidar dos meus amigos e manter laços fortes é o que importa agora.”
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
RESPONSABILIDADE IMPORTA?
SIM