Era 7 de abril de 2024, e o superstar da WWE, Jey Uso, mal podia acreditar na sorte que tinha. Ali estava ele, um dos protagonistas do maior evento da história do wrestling, o WrestleMania 40, enfrentando seu próprio irmão gêmeo, Jimmy, em uma luta dos sonhos que ambos desejavam desde crianças. Jey encarava Jimmy diante de mais de 60 mil pessoas no Lincoln Financial Field, na Filadélfia, e milhões assistindo pela TV ou online. E, para coroar tudo, seu rapper favorito, o fã de wrestling Lil Wayne, o acompanhava até o ringue. Só havia um problema: a luta entre os irmãos estava programada para o início do card, e Wayne, conhecido por seus atrasos, chegou quase no limite — mas, dessa vez, apenas um pouco atrasado. A luta era a quarta da noite, e Weezy apareceu a tempo. Apresentado como o “Maior Rapper de Todos os Tempos”, ele entrou ao som de “A Milli”. Quando a música parou de repente, o grito de “Uuuuuuso!” ecoou pelas caixas de som, e o tema de entrada de Jey, “Main Event Ish”, começou a tocar. A energia explodiu enquanto o lutador e o rapper avançavam em direção ao ringue, animando a plateia. “É com você!”, gritou Wayne, improvisando no refrão da música. “É só eu, Uce/ Day one ish!” Os fãs responderam em uníssono com o icônico “Yeet!!”, balançando os braços no ritmo. “Foi um momento de completude, Uce”, disse Jey à Variety quase um ano depois. (Ele chama quase todo mundo de “Uce”, abreviação de “Uso”, que significa “irmão” em sua herança samoana.) Ele estava relaxando na famosa loja de tênis Flight Club, em Nova York, um dia após uma luta no Madison Square Garden. Seu sorriso era largo ao falar de Lil Wayne. “Ele é realmente meu rapper favorito”, disse, animado. “Eu acompanho desde o começo, Hot Boys, o primeiro álbum do ‘Carter’. Quando comecei a lutar no circuito independente, eu e meu irmão entrávamos com ‘Go DJ’, do Lil Wayne. Tê-lo me acompanhando e cantando foi um fechamento de ciclo. Wayne é o melhor rapper vivo, de verdade.” O momento no Mania 40 e a reação do público não passaram despercebidos pelos executivos da WWE. Eles têm o maior e mais confiável grupo de foco bem na frente deles: Jey não é apenas um pilar da WWE, mas se tornou um dos rostos oficiais da empresa. “Estou tão orgulhoso do Jey”, disse T-Pain, que estava na plateia naquela noite, à Variety. “Ele merece, mano. Todo mundo sabe e sente isso.” O crescimento meteórico de Jey nos últimos anos até ganhou um apelido: “O Movimento Yeet”. Sua entrada no ringue se tornou tão marcante que agora ele não surge dos bastidores — ele caminha pela multidão, passando pelos mezaninos e descendo as escadas enquanto os fãs gritam “Yeet!”. “Yeet” é uma gíria do hip-hop tão consolidada que tem duas definições no dicionário Merriam-Webster: como interjeição (“usada para expressar surpresa, aprovação ou entusiasmo”) e, mais engraçado ainda, como verbo (“arremessar algo com força, sem se importar com o objeto”). Jey popularizou ainda mais o termo, usando-o também como cumprimento ou expressão carinhosa. Produtos com a palavra vendem milhões; a WWE até lançou um cereal do Jey Uso chamado “Frosted Yeet” para o WrestleMania deste ano. “Jey é um tipo especial de superstar”, disse o analista da WWE e apresentador da Sirius XM, Sam Roberts, à Variety. “Percebi que ele era diferente quando, em um dos eventos Premium da WWE este ano, mostraram o público: muitas pessoas estavam usando camisetas do ‘Yeet’, e o Jey nem estava no card. Isso é uma conexão única.” Como The Rock antes dele, Jey é, sem dúvida, um campeão do povo. Ele conquista as plateias com sua emoção e sinceridade no ringue e nos promos, onde quebra o personagem para rir ou até chorar. Sem contar o estilo inconfundível — óculos escuros, dentes de ouro, o gingado no ritmo da música — que representa a cultura hip-hop e o consolidou no wrestling. Ninguém torce mais por ele do que a comunidade do hip-hop — vários rappers já pediram para acompanhá-lo ao ringue, como Wayne, Travis Scott e o veterano do Migos, Quavo. “Quando as luzes se acendem, é hora de ação com o Travis”, disse Jey. “Ele entende o que fazemos — está retribuindo ao wrestling. Agora ele está envolvido com The Rock e John Cena — quem imaginaria isso? Nem eu.” No entanto, ele admite que ficou chocado quando Scott deu um soco violento no Campeão Universal Cody Rhodes, que estava indefeso no ringue, após se juntar a The Rock e Cena. “Ele bateu pra caramba nele”, disse Jey. “Aquilo me deixou puto por algum motivo. Alguém vai ter que acertar as contas com o Travis Scott.” Killer Mike comentou à Variety: “Estamos acostumados a ver caricaturas do hip-hop no wrestling — rimas bregas, estereótipos exagerados, como o som portátil no ombro, cores e modas malucas, bordões distorcidos… Com o Jey, é claro que ele foi criado na cultura, então é genuíno, não um personagem. E é por isso que a gente curte ele.” Essa virada marcou a mudança na carreira de Jey, que agora colhe os frutos. Durante a pandemia, a WWE criou a história mais bem-sucedida de todos os tempos: a saga The Bloodline. Envolvendo Jey, seu irmão Jimmy e seu primo na vida real, Roman Reigns, com quem cresceram, o enredo explorou laços familiares profundos. Além de serem primos de The Rock, Jey e Jimmy são filhos do Hall da Fama da WWE, Rikishi, enquanto o pai de Roman, Sika, também é membro do Hall da Fama como parte da lendária dupla The Wild Samoans. Na pandemia, Roman iniciou sua era mais dominante: um reinado histórico como campeão que durou 1.316 dias e levou a WWE a seu período mais lucrativo. Ao seu lado, os irmãos Uso se tornaram os campeões de duplas por mais tempo, segurando os títulos por quase 700 dias. “Era fácil para mim e o Roman sermos reais um com o outro, porque somos família”, disse Jey. “O mesmo com meu irmão. Era natural trazer essa emoção, e as pessoas sentiram.” Depois de um drama típico da WWE, Jimmy traiu Jey e o fez perder o título Universal em uma luta contra Roman no ano passado. Meses depois, Jimmy custou a Jey o título Intercontinental, preparando o confronto no Mania 40. “Eu só pensava: ‘Preciso evoluir agora'”, disse Jey. “Trouxe novas cores [nos trajes], nova música, o ‘Movimento Yeet’.” Sua maior vitória até hoje veio em fevereiro, quando venceu a Royal Rumble de 30 homens — um feito que define carreiras, reservado aos maiores superstars: The Rock, Hulk Hogan, John Cena, Stone Cold Steve Austin e Shawn Michaels já venceram. Jey venceu eliminando John Cena e garantiu vaga no WrestleMania para desafiar o campeão de sua escolha. Agora, com a noite 1 do WrestleMania 41 se aproximando, Jey está pronto para consolidar seu legado. Ele tem popularidade, vendas de merch e o apoio de celebridades — mas o que ainda falta é o World Heavyweight Championship. No sábado, ele enfrenta o vilão Gunther, que já o derrotou duas vezes e o atacou covardemente por semanas no Monday Night Raw. Gunther até brutalizou Jimmy enquanto Jey estava preso nas cordas, incapaz de ajudar. O austríaco deixou Jimmy sangrando, passou o sangue no próprio peito e ainda o provou. Esse último capítulo só aumentou a tensão entre eles. “Preciso testar meu sangue frio contra ele”, disse Jey sobre Gunther. “Mas estou pronto. Preciso vencê-lo para consolidar minha história. Agora é a minha vez.” Jey Uso vs. Gunther será a primeira luta do WrestleMania Weekend, abrindo a noite 1 no sábado, às 19h (horário da costa leste).
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
JEY USO: CONTRADIÇÃO?
SIM