Silence is Golden: O audacioso game show que pune risadas
Em um estúdio de TV às margens do rio Tâmisa, em Londres, um grupo de comediantes tenta – e quase sempre falha – arrancar risadas do público. A cena é incomum: normalmente, plateias de programas de TV não são exatamente conhecidas por seu refinamento humorístico. Mas aqui, essa é exatamente a proposta.
No inovador “Silence is Golden” (que estreia em 5 de maio no UKTV), cada risadinha, espirro ou qualquer ruído emitido pela plateia faz com que dinheiro seja descontado de um prêmio total de £250 mil (cerca de R$ 1,6 milhão). Um simples suspiro pode custar até £10 mil (R$ 65 mil) por vez. Os 75 participantes estão sob vigilância constante – todos filmados e com microfones ligados, enquanto uma equipe de fiscais monitora os níveis de volume, prontos para acionar uma sirene a qualquer deslize.
O formato, criado por Richard Bacon, fundador da Yes Yes Media, já foi vendido para quatro países antes mesmo de sua estreia – um feito raro no mercado televisivo. Bacon, um veterano da TV britânica que passou nove anos em Los Angeles, teve a ideia ao imaginar o comediante Jimmy Carr diante de uma plateia proibida de rir. “Acordei com essa imagem na cabeça e em três horas escrevi o conceito”, conta o criativo de 49 anos, que atribui sua profusão de ideias ao TDAH que recentemente diagnosticou.
Uma fábrica de formatos inovadores
A Yes Yes Media, fundada em 2023, já chamou atenção do mercado ao atrair investidores de peso como Elisabeth Murdoch (da produtora Sister, por trás de sucessos como “Chernobyl”), a gigante francesa de reality shows Satisfaction, e até celebridades como Courtney Cox e o compositor Savan Kotecha.
A empresa se orgulha de ser uma “fábrica de ideias”, com cerca de 30 formatos em desenvolvimento – desde programas de talentos e reality shows até eventos ao vivo. Três deles já estão em fase de piloto para este verão, incluindo um reality de aventura “na escala de Survivor, mas com absurdismo”.
Tecnologia que pode revolucionar a TV
Além dos formatos tradicionais, a Yes Yes desenvolve o WOMI – um dispositivo que pode transformar a produção de programas não-roteirizados. Inspirado por uma conversa com o cineasta Stephen Daldry sobre a importância do close-up no drama, o aparelho grava simultaneamente a reação do usuário e o que está sendo visto na tela do smartphone.
“É como ter uma equipe de reality show no seu bolso”, explica Bacon, que já patenteou a tecnologia nos EUA. Testes iniciais com universitárias em Liverpool renderam conteúdo que ele descreve como “autêntico e cru”, capturando reações espontâneas a mensagens e interações sociais.
De escândalo a reinventor da TV
A trajetória de Bacon é tão singular quanto suas criações. Começou na BBC aos 17 anos e aos 21 apresentava o icônico programa infantil “Blue Peter”, de onde foi demitido em 1998 após escândalo por uso de cocaína. Mas se reinventou, tornando-se uma das caras do revolucionário programa matinal “The Big Breakfast”.
Em 2014, mudou-se para Los Angeles, onde quase morreu em 2018 por uma infecção pulmonar que o deixou em coma por nove dias. “Aquilo mudou tudo. Decidi que faria o que sempre quis: criar formatos”, relembra. O resultado é a Yes Yes Media, que mescla o caos criativo de seu fundador com uma equipe de veteranos premiados – incluindo o showrunner de “The X Factor” Mark Sidaway.
Com tecnologia patenteada, investidores de peso e formatos que já despertam interesse global, a Yes Yes parece destinada a abalar as estruturas do entretenimento não-roteirizado. E se depender da mente hiperativa de Bacon – que chega a acordar às 4h para anotar ideias no celular -, a próxima grande revolução da TV pode estar a apenas um insight de distância.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
RICHARD BACON: PARA ONDE FOI A CARREIRA DELE?
DECLINOU