O cineasta ucraniano Sergei Loznitsa retorna ao Festival de Cannes com o impactante drama de época soviético “Dois Procuradores”, marcando sua primeira competição pela Palma de Ouro em quase uma década. O filme, que estreia mundialmente em 14 de maio na seleção principal, se passa em uma cidade provinciana da URSS em 1937, no auge do terror stalinista. A obra retrata a impotência de um homem diante da máquina implacável de um Estado brutal e arbitrário. Loznitsa destaca que a história ecoa assustadoramente os eventos atuais, como a repressão de Vladimir Putin na Rússia e os impulsos autoritários de Donald Trump nos EUA. “Ao assistir a esse passado, reconhecemos o presente”, reflete o diretor em entrevista à Variety. “Parece que estamos voltando à era pré-Segunda Guerra, e isso é triste. Nada foi aprendido.”
O enredo de “Dois Procuradores” se desenrola durante o Grande Expurgo de Stalin, acompanhando Alexander Kornyev, um jovem procurador idealista que recebe uma carta anônima escrita com sangue. O autor é um prisioneiro político vítima da NKVD, a temida polícia secreta soviética. Determinado a buscar justiça, Kornyev enfrenta a resistência do aparato partidário e mergulha nos horrores do regime totalitário. A trama é baseada em uma novela de Georgy Demidov, ex-preso político que sobreviveu 14 anos nos gulags. O manuscrito, escrito em 1969, foi confiscado pela KGB e só publicado em 2009. “É uma história que esperou 40 anos para ser contada”, diz Loznitsa.
Este é o terceiro filme de Loznitsa em competição em Cannes, após “Minha Alegria” (2010) e “Uma Criatura Dócil” (2017). O diretor, que nasceu na Bielorrússia e cresceu em Kiev, também exibiu no festival o documentário “A Invasão” (2023), sobre a guerra na Ucrânia. Para ele, o mundo atual reflete perigosamente os erros do passado: “Vemos um líder russo revivendo o stalinismo e um líder americano minando a democracia. É uma aliança de pesadelo.” Loznitsa, que já trabalhou com inteligência artificial, faz uma analogia sombria: “Assim como os dinossauros, podemos ser substituídos. A humanidade se vê poderosa, mas é frágil no universo.”
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
TOTALITARISMO?
OPRESSÃO