O governo britânico está sendo pressionado a adotar medidas drásticas para apoiar a combalida indústria de TV e o setor de cinema independente do Reino Unido, segundo um relatório recente de um comitê parlamentar. Após meses de depoimentos de grandes nomes do setor criativo, o documento sugere que benefícios fiscais e um imposto sobre streamers devem ser considerados como parte de um pacote emergencial para salvar a produção de dramas de alta qualidade no país.
Diante do aumento de custos, queda no mercado publicitário, cortes de financiamento em redes locais e a retração global de estúdios e plataformas de streaming em coproduções, o relatório defende um incentivo fiscal reforçado para produções televisivas nacionais, semelhante ao novo Crédito Tributário para Cinema Independente (IFTC), anunciado em 2024. Alguns depoimentos revelaram a dificuldade de financiar produções britânicas de prestígio — como o caso da série Wolf Hall: The Mirror and the Light, que só foi viabilizada após o ator Mark Rylance reduzir seu cachê.
O texto também cobra que as plataformas de streaming, que “se beneficiam da criatividade dos produtores britânicos”, contribuam com 5% da receita de assinaturas no Reino Unido para um fundo cultural destinado a financiar produções de interesse local. Caso a indústria não crie esse fundo voluntariamente em um ano, o governo deve impor uma taxa obrigatória. Além disso, o relatório alerta que o modelo atual entre produtoras independentes e streamers é insustentável, pois impede que as empresas britânicas explorem plenamente seus direitos de propriedade intelectual.
Embora o IFTC tenha sido elogiado como um “primeiro passo positivo”, o comitê argumenta que ele não resolve todos os desafios do cinema independente. Entre as recomendações adicionais estão um abatimento de 25% nos custos de marketing (P&A) para filmes beneficiados pelo IFTC e a criação de um observatório de IA em parceria com o British Film Institute. O relatório também propõe a redução de impostos sobre ingressos de cinema e a nomeação de um Comissário para Freelancers, visando proteger os direitos desses profissionais.
Outro ponto destacado é a necessidade de combater assédio e bullying no setor, com um apelo para que a indústria financie a Autoridade de Normas Independentes das Indústrias Criativas em seis meses — sob risco de intervenção governamental.
“Os blockbusters filmados no Reino Unido mostraram ao mundo a excelência do nosso setor audiovisual”, afirmou a presidente do comitê, Dame Caroline Dinenage. “Mas o crescimento recente do investimento estrangeiro agora ameaça sufocar nossos produtores independentes. Sem ações urgentes, histórias essencialmente britânicas podem desaparecer das telas.”
O diretor Peter Kosminsky, defensor da taxa de 5% sobre streamers, celebrou a proposta, mas ressaltou que o fundo deve ser destinado apenas a produções vinculadas a emissoras públicas. Já a Netflix criticou a medida, argumentando que o custo extra seria repassado aos assinantes: “Tributos reduzem competitividade e prejudicam o público”, disse uma porta-voz.
Distribuidoras como StudioCanal e True Brit aplaudiram a sugestão de incentivos fiscais para marketing, destacando a dificuldade de competir com blockbusters em campanhas publicitárias. “Um crédito para P&A seria vital para maximizar o potencial das produções locais”, afirmou Zygi Kamasa, CEO da True Brit.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
IMPOSTOS PROTEGEM A DRAMATURGIA?
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