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Os Últimos Dias da Technicolor: Relato de Trabalhadores da ARC Creative

Os Últimos Dias da Technicolor: Relato de Trabalhadores da ARC Creative

Há um mês, na sexta-feira, 21 de fevereiro, a Technicolor começou a alertar seus funcionários sobre uma grave crise financeira que poderia levar ao fechamento das operações já na segunda-feira seguinte – o que de fato aconteceu. O colapso abrupto da icônica empresa, com mais de um século de história, abalou o setor, afetando suas marcas, milhares de funcionários ao redor do mundo e seus clientes. Sediada em Paris, a Technicolor havia passado por várias reestruturações nos últimos anos e, no momento do fechamento, era a controladora de gigantes como a MPC (efeitos visuais), o estúdio The Mill, a Mikros Animation e a Technicolor Gaming. Nenhuma delas tinha sede nos EUA, mas todas mantinham operações ou pontos de contato no país.

“De repente, o lugar onde dedicamos a maior parte de nossas carreiras e paixão – nossa casa criativa – simplesmente desapareceu”, relata Robert Sethi, ex-diretor criativo do The Mill em Los Angeles. Mas ele e outros líderes da equipe norte-americana não estavam dispostos a desistir do time por trás de uma das principais marcas de VFX comerciais do mundo. Unidos, eles se juntaram à Dream Machine FX, um grupo de empresas de efeitos visuais, para criar a ARC Creative, uma nova empreitada no mercado.

Um mês depois, membros da liderança do The Mill nos EUA compartilharam com a Variety os detalhes daqueles 72 horas caóticos entre o anúncio do colapso da Technicolor e o lançamento da ARC Creative. Após receberem a notícia, naquela sexta-feira à tarde, eles se reuniram com David Li, presidente da Dream Machine FX, empresa responsável por marcas como a Important Looking Pirates (ILP), conhecida por trabalhos recentes como Shogun. O encontro foi organizado às pressas por Niklas Jacobson, cofundador da ILP e sócio da Dream Machine.

“Tenho uma relação de 25 anos com várias pessoas-chave da Dream Machine. Yafei Wu, Niklas Jacobson e eu começamos nossas carreiras juntos na Suécia, em 2000”, conta Sethi. A comunidade de VFX é estreita, e outros líderes do The Mill também tinham conexões com executivos da Dream Machine, incluindo Li.

Fundado em 1990 em Londres, o The Mill se tornou referência global em VFX e produção criativa para comerciais, marketing e jogos. Foi adquirido pela Technicolor em 2015. Naquela sexta-feira, os executivos apresentaram sua situação a Li e, juntos, começaram a buscar uma solução em meio ao caos crescente.

“Quando desligamos o telefone, a notícia do fechamento da Technicolor e das demissões em massa já havia vazado. As próximas 12 horas foram de puro caos: conversas com a equipe, ligações desesperadas de clientes e a corrida para descobrir se a parceria com a Dream Machine seria viável”, lembra Anastasia von Rahl, diretora-geral do The Mill em LA.

Os clientes do The Mill não foram informados diretamente pela Technicolor – souberam da crise pela imprensa ou por colegas. Von Rahl conta que, durante o fim de semana, a equipe trabalhou para ajudar os clientes a recuperar seus projetos em andamento. “Chamamos funcionários que haviam acabado de receber avisos de demissão e pedimos que voltassem para preparar e enviar os materiais. Foi surreal”, diz ela.

Enquanto isso, Gavin Wellsman, diretor criativo do The Mill em Nova York, revela que enfrentaram outro obstáculo: executivos da Technicolor tentaram criar empresas concorrentes com apoio de private equity, gerando ainda mais confusão. “Alguns deles haviam dito, meses antes, que a Technicolor estava se recuperando”, critica Wellsman.

O grupo seguiu trabalhando sem parar. No sábado, Li apresentou um plano viável, e no domingo já estavam estruturando a nova empresa. “Sabíamos que o tempo era inimigo. Com um time tão talentoso, cada um precisava pensar em suas famílias”, diz Sethi.

Em 24 de fevereiro, as portas do The Mill foram fechadas, e milhares de funcionários da Technicolor ao redor do mundo perderam seus empregos. Mas a ARC Creative já estava sendo anunciada. Com 100 contratados em tempo integral e 50 freelancers, a nova empresa mantém operações em LA e Nova York, trabalhando em espaços temporários enquanto busca sedes definitivas.

“Foi emocionante ver o apoio da comunidade, desde parceiros oferecendo espaço até clientes como a Amazon pedindo para ser o primeiro projeto”, diz von Rahl. Wellsman complementa: “As pessoas precisavam de algo positivo em meio a esse desastre.”

Apesar dos desafios, a equipe segue confiante. “Estávamos em choque, mas também animados com o futuro”, finaliza Sethi.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com
FIM?
SIM

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