Gillian Welch e David Rawlings Reafirmam Dominância em Show Acústico

Estamos vivendo uma era de ouro para a música acústica? Se você está acompanhando algumas das turnês mais significativas que estão passando pela Califórnia no momento, é difícil pensar o contrário. A dupla Gillian Welch e David Rawlings, assim como o artista solo Jason Isbell, estão percorrendo cidades costeiras como se fossem capotrastes em uma roda de violão. Isbell tem ganhado destaque nas críticas, mostrando o quão poderosa pode ser a técnica do finger-picking solitário em seu primeiro álbum sem banda, “Foxes in the Snow”. Já o retorno de Welch e Rawlings a Los Angeles — que estão há mais de seis meses em turnê com o excelente álbum conjunto de 2024, “Woodland” — é um lembrete não apenas da influência que eles tiveram em artistas como Isbell, mas de como continuam sendo os incontestáveis rei e rainha desse gênero.

Enquanto Isbell e outros contemporâneos alternam entre o acústico e outros estilos, Welch e Rawlings mantêm-se fiéis ao som despojado há quase 30 anos. De vez em quando, eles até ameaçam “ir para o lado elétrico”, mas, felizmente, isso nunca acontece de fato. A magia das histórias atemporais que contam funciona melhor em fogo baixo, embora nada eletrize tanto quanto o som da Epiphone de 1935 de Rawlings quando ele deixa seus dedos amplificarem a emoção. O show esgotado deles no Wiltern na sexta-feira foi uma prova de como duas pessoas aparentemente simples podem cativar uma plateia por mais de duas horas e meia, com pouco mais do que talento, identidade compartilhada e um ótimo gosto por equipamentos vintage. (E, em algumas músicas, um baixista convidado para dar um turbo extra.)

Dividido em dois sets com um intervalo, o show de 23 músicas passou rápido demais — um testemunho do poder hipnótico da dupla. Foi quase apropriado que eles estivessem se apresentando no mesmo fim de semana em que os EUA adotaram o horário de verão, dando ao público várias chances de se perguntar para onde o tempo foi.

Pela primeira vez, o formato do novo álbum deles, “Woodland”, coincide com o do show ao vivo. No passado, os concertos alternavam entre músicas dos álbuns lançados sob seus nomes individuais (embora ambos sempre tenham trabalhado juntos). Agora, com “Woodland”, eles dividem os vocais principais e harmonias, assim como fazem ao vivo. É uma sincronização bem-vinda entre estúdio e palco, sem desvantagens para o público. A dinâmica complementar entre os dois mantém o show sempre interessante, e quando suas vozes se fundem, como na clássica “The Way It Will Be”, o efeito é quase sobrenatural — algo belo e assustador ao mesmo tempo.

Atualmente, a dupla conta com um terceiro integrante no palco: o baixista Paul Kowert, membro das bandas Punch Brothers e Hawktail. Sua presença adiciona variedade ao repertório, especialmente em músicas como “Bells of Harlem”, onde ele alterna entre o arco e os dedos, criando tensão e movimento em cenas aparentemente simples. Welch, por sua vez, alterna entre guitarra e banjo, recebendo aplausos entusiasmados ao pegar o último. “Algumas pessoas acham o banjo inexplicavelmente sexy”, brincou ela.

Rawlings, por outro lado, é um mestre técnico e um verdadeiro “Monstro do Folk”, solando ao redor dos vocais e ritmos de Welch como se estivesse em um delírio doce. Seu auge veio durante a penúltima música, “Revelator”, onde ele alternou entre destreza virtuosa e batidas intensas nas cordas. É difícil não imaginar o rosto dos artesãos que construíram sua Epiphone em 1935 ao ver o que ele faz com o instrumento.

Outros destaques incluíram duas músicas inéditas cantadas por Rawlings, como “Lazarus”, que parece explorar a perspectiva de alguém próximo ao personagem bíblico, questionando se a ressurreição valeu a pena. A música é tão envolvente que chega a confundir os fãs, que chegaram a pensar que era um cover do Grateful Dead. Já “Goodnight”, apresentada nos bis, é uma despedida tão doce que poderia se tornar um clássico de encerramento.

Para quem está conhecendo a dupla agora, pode surgir a pergunta: isso tudo é uma peça de época? A resposta não é simples, e é isso que torna o trabalho de Welch e Rawlings tão cativante. As melodias e letras muitas vezes evocam nostalgia — mas uma nostalgia dos tempos da Grande Depressão. No entanto, músicas como “Hashtag”, uma homenagem ao falecido compositor Guy Clark, mostram que eles não estão presos ao passado. A voz de Welch, em particular, parece transcender o tempo, trazendo calor e ambiguidade, como se estivesse contando uma história de fantasmas enquanto oferece conforto.

O público do Wiltern ainda foi presenteado com uma surpresa final: uma versão de “White Rabbit”, do Jefferson Airplane. Welch e Rawlings raramente fazem covers, e essa música em particular só foi tocada cerca de uma dúzia de vezes nos últimos 20 anos. Mas algo em Los Angeles os inspirou, e o resultado foi tão impressionante quanto a versão original. Ao sair do show, era impossível não sentir que todos haviam sido transformados em fãs ainda mais fervorosos.

Setlist:

  • Set 1: Elvis Presley Blues, Midnight Train, Empty Trainload of Sky, Cumberland Gap, North Country, Howdy Howdy, Bells of Harlem, The Way It Goes, Ruby, Wayside/Back in Time
  • Set 2: Lawman, What We Had, Hard Times, Hashtag, The Day the Mississippi Died, The Way It Will Be, Lazarus, Red Clay Halo
  • Encore 1: Look at Miss Ohio, I’ll Fly Away
  • Encore 2: Goodnight, Revelator, White Rabbit

Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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