Significado das Pinturas de Kier, Posters e Brinquedo de Água na Severance

ALERTA DE SPOILER: Este texto contém spoilers do Episódio 9 da 2ª Temporada de Severance, disponível na Apple TV+. A série é reconhecida por sua estética visual meticulosa, especialmente nos corredores vigiados da Lumon. Parte do poder institucional da empresa vem de sua capacidade de fazer com que todos os funcionários adotem a filosofia de seu fundador, Kier Eagan, criando uma dedicação quase religiosa à mitologia corporativa. A Lumon utiliza a arte visual como ferramenta para transmitir os ideais da família Eagan, algo que foi intencional desde o início, segundo Catherine Miller, responsável pelos adereços da série desde a 1ª Temporada.

A arte está presente em todos os cantos de Severance, desde as pinturas do O&D e as figuras de cera da Ala da Perpetuidade, que contam a história dos Eagan, até a animação que abre a 2ª Temporada, mostrando a revolta dos “innies”. A Lumon usa essas imagens para criar uma narrativa específica para os funcionários com memórias divididas, limitando sua compreensão do mundo exterior. Miller destaca que nenhuma escolha artística é aleatória: “Tudo parte de uma compreensão criativa da história da Lumon, seus objetivos e como eles buscam alcançá-los dentro de estruturas muito específicas.”

Os artistas da série trabalham em conjunto com o criador Dan Erickson e o produtor/diretor Ben Stiller para transformar descrições de obras de arte em elementos que se encaixam na visão do show. David Schlesinger, responsável pela decoração de cenários na 2ª Temporada, explica que cada detalhe é pensado para reforçar a identidade visual da Lumon. Um exemplo é a pintura “Kier Perdoa Seus Traidores”, que aparece no Episódio 9. A obra, inspirada na arte de propaganda soviética, mostra Kier Eagan perdoando quatro figuras, uma metáfora para os refinadores Mark, Helly, Irving e Dylan, que enfrentam as consequências do uso do Contingente de Horas Extras na 1ª Temporada.

Miller explica que a pintura transmite uma mensagem de perdão, mas também serve como um aviso: “É duplo, como muitas coisas na Lumon. Na superfície, é perdão, mas por baixo, pode ser um alerta de que na próxima vez você não será perdoado.” A obra foi criada pelo artista Danny Aviles, com cores terrosas e vermelhas que contrastam com o visual azul e verde predominante no ambiente dos “innies”. Schlesinger destaca que o esquema de cores traz uma sensação de renovação, com o sol formando uma auréola na cabeça de Kier.

Outro destaque do episódio é o brinquedo de água de Ms. Huang, que ela é instruída a destruir com um busto de Jame Eagan ao ser informada sobre o fim de sua bolsa de estudos. O brinquedo, que lembra um celular, foi criado do zero pela equipe de produção, com um mergulhador esculpido à mão por Penko Platikanov. Miller revela que foram feitas 12 unidades do brinquedo, das quais 10 foram destruídas durante as filmagens.

O busto de Jame Eagan, esculpido em nogueira, é uma versão atualizada do troféu que Cobel recebeu em sua época de bolsista. A diferença de idade entre os bustos reflete a passagem do tempo, com Jame Eagan aparecendo 40 anos mais jovem no busto de Cobel. A cena em que o busto esmaga o brinquedo de água é carregada de simbolismo, com o líquido vazando sobre um lenço, representando o fim de um ciclo.

No escritório de Milchick, uma pintura de icebergs foi adicionada para refletir a dualidade da série. Schlesinger explica que a escolha foi inspirada por uma menção do ator Tramell Tillman, que viu nos icebergs uma metáfora para o desconhecido. A obra, impressa em metal, retrata um iceberg em Newfoundland, local onde parte do Episódio 8 foi gravado.

Os cartazes da sala de descanso também foram cuidadosamente planejados. O pôster “Hang in There”, que mostra Dylan facilitando o Contingente de Horas Extras, foi o único previsto no roteiro, mas a equipe decidiu criar outros para evitar que ele se destacasse demais. Os cartazes seguem uma estética inspirada na propaganda soviética, alinhada com a tentativa da Lumon de se reinventar para os “innies”.

A estética de Severance é construída com base em diretrizes claras, como o uso de cores e fontes específicas, mas também evolui conforme a Lumon encontra novas formas de transmitir sua mensagem. Miller destaca que a série retrata Kier Eagan em diferentes fases de sua vida, utilizando estilos artísticos variados para cada período. A equipe também se esforça para manter uma sensação de dualidade em cada obra, mesclando o absurdo e o humor com um toque de ameaça.

Schlesinger ressalta que o desenvolvimento visual da série depende de uma compreensão profunda da “identidade de marca” da Lumon. Miller complementa: “A cultura da Lumon cresceu organicamente a partir da compreensão do que essa organização é e do que a empresa faz. Criamos essas regras básicas juntos desde o início.” Cada detalhe, desde as roupas até os acessórios, é pensado para reforçar a narrativa e a estética única de Severance.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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