Laura Wandel Explora Saúde em “Adam’s Sake” com Apoio dos Irmãos Dardennes

A cineasta e roteirista belga Laura Wandel conquistou o prêmio Un Certain Regard em Cannes em 2021 com seu primeiro longa-metragem, Playground, que acompanhava dois irmãos em uma escola primária. Agora, ela retorna ao festival para abrir a Semana da Crítica com seu segundo filme, Adam’s Sake, focado em uma enfermeira compassiva, uma criança doente e sua mãe. Os direitos estão com a Indie Sales. Mas o que inspirou a narrativa?

“Eu me senti atraída pelo universo das enfermarias pediátricas — outra instituição belga, aliás — porque representa uma bela metáfora da sociedade e remete ao mundo da infância. Instituições me interessam porque são, em sua essência, microcosmos com hierarquias, regras próprias e leis que, muitas vezes, acabam perpetuando violências sistêmicas. Sentia a necessidade de mergulhar nesse ambiente, documentar e confrontar a realidade, conversando com profissionais da saúde”, explica Wandel.

“Daí surgiu a ideia de explorar a perspectiva de uma enfermeira pediátrica que, diante do sofrimento de uma criança, ultrapassa os limites legais de sua profissão para ajudá-la. O bem-estar da criança se tornou o ponto de partida para investigar um conflito moral e humano.”

E quanto à pesquisa com a talentosa Léa Drucker, que interpreta Lucy, a enfermeira sênior? “No começo, fiz muita pesquisa sozinha. Passei semanas observando o cotidiano de uma ala pediátrica em um hospital de Bruxelas, o que me ajudou a entender a dinâmica interna e a dimensão social que me intrigava. Vi de perto a complexidade desse trabalho — como aspectos médicos, sociais e legais se entrelaçam, e como o bem-estar da criança está ligado à relação com os pais”, detalha a diretora.

“Pouco antes das filmagens, levei Léa ao mesmo hospital para que ela absorvesse os gestos e posturas das enfermeiras. Durante as gravações, uma profissional acompanhou cada cena para orientá-la. Queria retratar Lucy como uma guerreira e, através dela, destacar aqueles cuja vocação de cuidar é minada pelas condições de trabalho.”

Entre os produtores do filme estão os irmãos Dardenne e sua produtora, Les Films du Fleuve, quase um selo de excelência no cinema social. “Conheci os Dardenne, especialmente Luc, em Cannes em 2014, quando meu curta estava na competição oficial. Depois, pedi a opinião dele sobre o roteiro de Playground e a edição. Foi natural convidar Les Films du Fleuve para coproduzir este novo projeto”, revela Wandel. “Luc atuou como consultor no roteiro de Adam’s Sake, e a reputação da produtora certamente facilitou parte do financiamento.”

Sobre as diferenças entre dirigir atores profissionais e crianças não profissionais, ela reflete: “São métodos totalmente distintos. Com crianças, é um processo longo, que exige muita preparação. Às vezes, elas são mais fáceis de dirigir porque não têm consciência do que transmitem na tela. Com profissionais, os resultados podem vir mais rápido, mas alguns trazem vícios de atuação — paradoxalmente, já lidei com atores mais difíceis de moldar do que crianças.”

Ambos os filmes de Wandel têm menos de 80 minutos. Qual sua visão sobre a duração? “Não foi totalmente planejado, exceto pelo desejo de transmitir o ritmo frenético da equipe médica. Achei que a história se resolvia bem nesse tempo. O ritmo é crucial para mim — um segundo a mais pode quebrá-lo. É um equilíbrio delicado. Mais que a duração, o importante é prender o espectador. Gosto de narrativas diretas, sem excessos.”

E os próximos planos? “Vou me dedicar à pesquisa do próximo filme, que será inspirado em uma pessoa real. Então, mergulharei em leituras e estudos sobre sua vida.”


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

Deixe um comentário