Quase uma década depois que o thriller de espionagem “The Bureau” se tornou a primeira série francesa a adotar o formato americano de writers’ room, o produtor franco-americano Alex Berger ainda colhe os louros desse sucesso. Em Canneseries para promover a exibição de abertura do festival, “The Agency”—adaptação produzida por George Clooney do seu sucesso francês—, Berger refletiu sobre sua carreira e impacto no mercado, lembrando como a França “não estava acostumada a produzir o tipo de série que almejávamos, no ritmo que queríamos”.
Por “nós”, Berger se refere a si mesmo e ao criativo multitalentoso Éric Rochant, showrunner de “The Bureau”. A dupla fundou a produtora independente The Originals Productions em 2008 e aperfeiçoou seu método após o sucesso da série, criando uma técnica chamada Structured Writing Workshop. Esse modelo personalizado mistura “o melhor da França e dos EUA”, combinando princípios do sistema francês com a eficiência e inovação americana.
“Na França, as maiores emissoras produziam de seis a oito shows a cada 24 ou 36 meses”, explicou Berger. “Nós queríamos fazer pelo menos dez a cada 12 meses, e foi esse modelo que criamos, incorporando o que aprendemos nos EUA—o conceito de writers’ room e do showrunner. Tivemos que ajustar os aspectos legais para funcionar dentro das leis trabalhistas francesas. Esse processo nos permitiu entregar uma temporada por ano e estabelecer o que hoje é conhecido como writing rooms na França, com excelência na execução.”
“The Bureau” foi vendido para mais de 120 mercados, com um spin-off, “The Bureau: Africa”, anunciado no ano passado. Já a adaptação americana, “The Agency”, consolida o legado da série original. Produzida por George Clooney e Grant Heslov para a Showtime, a versão estrela Michael Fassbender, Jeffrey Wright, Jodie Turner-Smith e Richard Gere, com os irmãos Jez e John-Henry Butterworth (“Fair Game”) como showrunners. A primeira temporada estreou em novembro e foi renovada um mês depois. As filmagens da segunda temporada já começaram em Londres, com os roteiristas trabalhando na terceira.
“Os irmãos Butterworth fizeram um trabalho incrível”, elogiou Berger. “Respeitaram o que criamos originalmente, mas reinventaram de forma brilhante.” Sobre as diferenças entre produzir na França e nos EUA, ele destacou a “escala”. “A primeira temporada de ‘The Bureau’ custou €15 milhões em 2013; a de ‘The Agency’ foi mais de dez vezes isso. A ambição da Paramount e da Showtime é criar uma franquia de sucesso baseada em algo já consagrado, como fizeram com ‘Homeland’.”
Berger revelou que houve uma “guerra de lances” entre Apple TV+ e Paramount pelos direitos de adaptação, mas foi a proposta da Paramount—com o produtor David Glasser (“Yellowstone”, “Tulsa King”)—que fechou o negócio. “[Glasser] disse: ‘Queremos fazer isso no mais alto nível possível, sem mudar a essência.'” Embora Rochant não quisesse participar da adaptação, Berger sentiu a responsabilidade de “preservar o DNA da criação original, dando à Paramount liberdade para contar uma nova história.”
O produtor acabou colaborando com a Apple TV+ em outro projeto: o aclamado drama de moda “La Maison”, lançado no ano passado. No entanto, Berger criticou a falta de investimento em marketing da plataforma. “Marketing faz ou quebra uma série. A Apple é a melhor em vender iPhones, mas a pior em promover TV. Nunca divulgaram ‘La Maison’, o que me deixou frustrado.”
Questionado por que escolheu a Apple TV+ apesar disso, ele respondeu: “Esperança. Acreditamos que poderíamos mudar a mentalidade deles. Eles nunca tinham produzido nada na França ou na Europa—‘Slow Horses’ começou no Reino Unido, mas com os EUA. A Apple TV+ é um clube fechado, com séries incríveis que quase ninguém vê. É uma pena.”
Berger finalizou refletindo sobre a ideia ultrapassada de que “se fizermos, o público virá”. “Isso não existe mais. Há centenas de séries, filmes, livros, exposições—é preciso se destacar.”
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com