ALERTA DE SPOILER: Este texto revela detalhes importantes dos três primeiros episódios da 2ª temporada da série Andor, da Disney+. AVISO SENSÍVEL: O conteúdo inclui uma descrição de tentativa de violência sexual.
Se você observar com muita atenção o braço direito de Adria Arjona, encontrará uma pequena tatuagem em forma de “X”. A atriz fez questão de marcar sua pele no último dia de gravações de Andor — a aclamada série de Star Wars vencedora do Prêmio Peabody, que estreou sua segunda e última temporada em 22 de abril. A tatuagem simboliza sua personagem, a destemida mecânica Bix Caleen. “Bix transformou minha carreira e também minha vida”, afirma Arjona, conhecida por True Detective, Morbius e Hit Man. “Foi a primeira personagem com quem cresci emocionalmente. Ela me ensinou muito.”
Na série, Bix enfrenta provações intensas. No final da 1ª temporada, escrita pelo criador Tony Gilroy, ela é resgatada por Cassian Andor (Diego Luna) após sofrer tortura brutal nas mãos do Império. Agora, na 2ª temporada, ela vive no planeta agrícola Mina-Rau, trabalhando como engenheira — mas, como destacam repetidamente, “sem documentação”. Arjona gravou essas cenas há mais de um ano, mas a analogia com políticas anti-imigração, como as do governo Trump, é inegável. “É um reflexo de como tropeçamos sempre nos mesmos erros”, diz. “Isso torna a série atemporal. Daqui a 10, 20 anos, ainda fará sentido, porque a humanidade insiste em repetir seus piores hábitos.”
O episódio 3, também escrito por Gilroy, traz uma cena perturbadora: o tenente Imperial Krole (Alex Waldmann) invade a casa de Bix e, sabendo de sua condição migratória, a ameaça. “Preciso relaxar… Seus ombros devem ser fortes”, diz ele, agarrando-a. Quando tenta forçá-la contra a parede, Bix reage com um martelo, matando-o. “Ele tentou me estuprar!”, grita ela depois. A cena é um marco sombrio para Star Wars, mas também um retrato cruelmente realista do abuso de poder.
“Li o roteiro e fiquei aterrorizada”, admite Arjona. “Mas havia algo poderoso em mostrar isso numa galáxia distante. Tony deu a Bix essa dor, e foi justo. Ela está vulnerável, e alguém tira vantagem. Quantas vezes isso já aconteceu na vida real?” Durante as gravações com o diretor Ariel Kleinman, a atriz insistiu em um detalhe: Bix deveria se libertar com um tapa. “Queria que fosse visceral, como eu gostaria de reagir. Foi libertador. Pensei em todas as mulheres que já passaram por isso.”
Dizer a palavra “estupro” em Star Wars a impactou profundamente. “Pronunciar isso em voz alta me deu uma força imensa. Levei esse peso para casa.” A jornada de Bix nesta temporada exigiu mergulhos emocionais ainda mais profundos. Desde o primeiro episódio, ela sofre com pesadelos de PTSD, agravados quando Cassian, agora seu parceiro, sai em missões secretas. Para preparação, Arjona pesquisou vítimas de zumbido crônico e seus efeitos psicológicos. “Já tive ataques de pânico — inclusive fui ao hospital achando que era infarto. Voltar a esse lugar mental foi assustador, mas estava em um ambiente seguro. Espero ter honrado essas pessoas.”
Ao relembrar a experiência, Arjona agradece a Gilroy por tê-la escolhido. “Tony viu em mim algo que eu nem conhecia. Cresci assistindo Star Wars e nunca me enxerguei ali. Agora, faz todo o sentido. Pertencemos a esse universo. E quanto mais ele se expande, mais reflete nosso mundo real. É lindo.”
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com