Ariana Grande Desafia o Tempo: Álbum ‘Eternal Sunshine Deluxe’ entre Luto e Júbilo

Em “Past Life”, a penúltima faixa do álbum “Eternal Sunshine Deluxe: Brighter Days Ahead”, Ariana Grande deixa claro que está pronta para virar a página após o divórcio que marcou seu sétimo trabalho. “Might fuck around and elevate my expectations”, ela canta, seguido de “Now I’m fine to leave you in a past life”. A artista já viveu muitas vidas passadas — acompanhadas em tempo real por milhões de fãs —, e a forma como ela lida com essas experiências foi essencial para transformar “Eternal Sunshine” (2024) em uma obra confessional e cheia de revelações.

O álbum, seu mais introspectivo e emocional até hoje, explora a dor de uma separação pública e a esperança de um novo amor sob os holofotes. O título é uma referência ao filme “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” (2004), de Michel Gondry, no qual os protagonistas só entendem o valor de seu romance enquanto (literalmente) o apagam da memória. O longa termina com um tom cautelosamente otimista, sugerindo que o amor pode tanto liberar você das dores do passado quanto condená-lo a repeti-las. Essa inspiração deu charme especial ao disco, repleto de canções que entendem os erros e, ao mesmo tempo, celebram o que finalmente deu certo.

Grande é uma das pop stars mais transparentes da atualidade, pelo menos desde “Sweetener” (2018), quando passou a usar a música para processar sua vida sob os holofotes. Isso a coloca entre as compositoras mais subestimadas do pop, equilibrando conceito e execução com maestria — e conferindo a “Eternal Sunshine” um peso emocional que só as melhores obras terapêuticas do gênero alcançam. “Brighter Days Ahead” não reinventa o disco original, mas amplia seu universo. A artista faz parte de um grupo raro de superestrelas que ainda valorizam a arte de criar álbuns coerentes, e isso fica evidente na sintonia perfeita entre as seis novas faixas (ou cinco e meia, já que uma delas é uma introdução estendida) e o material já existente.

Nesta edição deluxe, Grande não se afasta do tema central, mas aprofunda a reflexão sobre um capítulo turbulento de sua vida, abordando o que ficou por dizer e como enfrentar o passado pode ser doloroso — e, ao mesmo tempo, libertador. A faixa “Intro (End of the World) – Extended” é um exemplo: começa como uma celebração radiante do amor, mas logo se transforma em um lamento sobre ciclos românticos interrompidos: “I broke your heart because you broke mine / So me, I am the bad guy ’cause I’d already grieved you and you started to realize / I do need you, I did / I wish I could un-need you, so I did”. A artista sempre soube criar introduções impactantes (como “Moonlight” e a “Intro” de “My Everything”), e essa versão estendida funciona melhor como um pensamento completo, não truncado.

As novas faixas de “Brighter Days Ahead” funcionam como extensões do universo de “Eternal Sunshine”, sem grandes hinos como “Yes, And?” ou mensagens provocativas como “The Boy Is Mine”. Em vez disso, exploram nuances do amor com referências sutis à sua vida. Em “Twilight Zone”, com influências dos anos 80, ela parece duvidar que seu casamento foi real — o título é uma homenagem a uma de suas séries favoritas. Já “Warm” questiona: “Can you hold the space I require or will you turn the page?”, enquanto “Hampstead” remete ao bairro londrino onde morou durante as gravações de “Wicked”.

Essa última faixa se destaca pela simplicidade: uma balada minimalista que esconde a complexidade dos arranjos vocais de Grande, cada vez mais ricos. A qualidade musical de “Brighter Days Ahead” é inegável — a artista é tão performer quanto técnica, como mostram os vídeos de suas sessões de estúdio —, e as novas canções soam elaboradas e cheias de camadas. Seja qual for a mensagem, sua música sempre será meliflua. E, neste caso, a mensagem é sobre transição: um retrato de Grande em uma encruzilhada emocional, dividida entre a dor de um divórcio e a promessa de cura em um novo amor. O álbum original ganhou força justamente por isso, e a edição deluxe amplia essa dualidade, mostrando que mesmo nos momentos mais difíceis, é possível encontrar novas formas de seguir em frente.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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