Atriz Samantha Béart Critica o Uso de IA nos Jogos: “É uma Ameaça às Carreiras Criativas e à Indústria”

Em uma entrevista recente à revista Edge (citada pelo GamesRadar), a atriz Samantha Béart, conhecida por interpretar Karlach em Baldur’s Gate 3, compartilhou sua visão sobre o crescente uso de performances e recursos gerados por IA nos jogos, além de criticar as motivações por trás dessa tendência.

“Basicamente, os CEOs que defendem a IA só querem economizar dinheiro”, afirmou Béart. “A longo prazo, isso vai destruir a reputação deles, a empresa, tudo.” Não surpreende que sua opinião sobre a IA nos jogos não tenha melhorado desde que ela e outros atores de Baldur’s Gate 3 criticaram a tecnologia durante o BAFTA de 2024.

Béart também duvidou que artistas e profissionais da indústria aceitem passivamente a imposição dessas ferramentas. “Isso simplesmente não vai acontecer”, argumentou. “Por que alguém faria isso? Estariam basicamente assinando o fim de suas carreiras.”

“Temos uma indústria repleta de pessoas altamente artísticas, que têm um chamado para fazer isso, e, do outro lado, há pessoas com dinheiro, que não jogam, mas veem os jogos como uma forma fácil de obter retorno financeiro”, continuou. “Essas duas visões são como água e óleo. É muito difícil negociar com pessoas em lados opostos do espectro.”

A atriz também comparou a captura de performance nos jogos com papéis de atuação mais tradicionais: “Você não chega ao set de filmagem e descobre, durante as gravações, que está trabalhando para a Marvel. Você assina um NDA e então eles te informam. Já nos jogos, culturalmente parece que você assina o NDA, mas ainda não te contam o que está acontecendo, o que não ajuda em nada a performance.”

“O sonho da indústria de tecnologia é vender sua empresa por um preço inflado e se aposentar”, resumiu Béart. “E eu sinto que isso está acontecendo com os estúdios de jogos atualmente.”

A avaliação de Béart parece refletir a realidade: mesmo com mais investimentos em desenvolvimento de IA e data centers, a IA generativa nos jogos continua extremamente impopular, sendo um termo que precisa ser justificado para os jogadores em qualquer proposta de venda. Quando não há transparência, as coisas podem ficar especialmente complicadas.

Um exemplo recente foi o trailer desastroso gerado por IA para o DLC Aquatica de Ark, desenvolvido por um novo estúdio. Os criadores originais de Ark sentiram a necessidade de se distanciar do projeto após uma reação negativa massiva (e totalmente previsível).

Outro caso foi o fiasco da IA Aloy, em que um vazamento de uma demo da Sony mostrou a protagonista de Horizon como um chatbot de IA respondendo a comandos de voz. O episódio gerou uma onda de críticas e zombarias, além de uma resposta da dubladora original de Aloy, Ashly Burch.

Além das preocupações éticas relacionadas à substituição de trabalhos criativos por automação, a qualidade de textos, imagens, vídeos e vozes gerados por IA estagnou no último ano. Os modelos de IA ainda não conseguiram se livrar dos sinais perturbadores e artificiais que denunciam sua origem.

Sem mencionar a tendência desses sistemas de apresentar informações falsas como fatos, ou “alucinar”, para usar o termo da indústria. Um estudo recente estimou que mecanismos de busca baseados em IA apresentam informações falsas ou enganosas em 60% das vezes.

Enquanto isso, o SAG-AFTRA continua envolvido em uma grande greve contra editoras por um novo contrato de mídia interativa que cubra performances em videogames. O ponto crucial das negociações são as proteções e direitos claramente definidos para os atores em relação ao uso de suas performances no treinamento de modelos de IA.


Este artigo foi inspirado no original disponível em pcgamer.com.

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