Lançamento De “Ballerina” Na Rússia É Confirmado Com Expectativa De Agradecimento Da Guerra Fria

Quem vai ceder primeiro? Essa é a pergunta que paira sobre qual estúdio retomará a distribuição de filmes na Rússia após três anos de pausa, causada pela invasão da Ucrânia. A resposta parece ser a Lionsgate, que planeja lançar o spin-off de John Wick, Ballerina, estrelado por Ana de Armas, no dia 5 de junho através da distribuidora russa Atmosfera Kino.

Um porta-voz da Lionsgate se recusou a comentar, mas uma fonte próxima ao assunto revelou à Variety que o estúdio está disposto a “avançar na Rússia caso a caso”, uma mudança de postura atribuída ao “tempo que passou” e ao fato de que “o sentimento mudou”. A movimentação surge na esperança de que outros grandes estúdios sigam o exemplo, especialmente diante da queda nas bilheterias internacionais e da expectativa de um possível acordo entre Rússia e Ucrânia, já que o presidente americano Donald Trump priorizou o tema no início de seu segundo mandato.

Nem Os Quatro Fantásticos: Primeiros Passos, da Marvel, nem Missão: Impossível — Acerto de Contas Final, da Paramount — que busca um grande desempenho global após sua estreia em Cannes —, devem chegar aos cinemas russos. A Universal também não planeja lançar Jurassic World: Renascimento no país. “Parece que as coisas estão se abrindo”, comenta um produtor influente em Cannes. “Encontrei vários compradores russos por aqui ontem. Eles estão prontos para fechar negócios.”

Após conversas entre autoridades dos EUA e da Rússia na Arábia Saudita no início do ano, Trump afirmou que está “tentando fechar acordos de desenvolvimento econômico” com Moscou, enquanto o secretário de Estado Marco Rubio destacou as “oportunidades extraordinárias” para empresas americanas no país assim que um acordo de paz com a Ucrânia for assinado.

Para Hollywood, esse posicionamento público abriu caminho para o retorno ao que já foi o sexto maior mercado cinematográfico do mundo antes da guerra. “Basta ver para onde o vento está soprando”, observa Schuyler Moore, sócio do escritório Greenberg Glusker.

Em fevereiro de 2022, a postura dos grandes estúdios era bem diferente. A MPA (Motion Picture Association) expressou seu “forte apoio à vibrante comunidade criativa da Ucrânia” em nome de Disney, Netflix, Paramount, Sony, Universal e Warner Bros., que suspenderam seus negócios com a Rússia. Mas, nos anos seguintes, alguns filmes, como Oppenheimer, da Universal, tiveram lançamentos discretos no território (o vencedor do Oscar arrecadou US$ 2,4 milhões lá).

Filmes independentes nunca pararam de chegar à Rússia, e muitas distribuidoras americanas continuaram operando no país durante a guerra, incluindo A24, Neon e FilmNation, geralmente através de parceiros europeus. Anora, vencedor do Oscar de Melhor Filme da Neon, que tem atores e diálogos em russo, estreou lá no ano passado e faturou quase US$ 3 milhões de seus US$ 57 milhões globais no país.

Para as distribuidoras independentes, a ausência dos blockbusters de Hollywood se tornou uma mina de ouro. “Foi uma corrida do ouro para eles. Os preços estavam agressivos, e a Rússia se tornou o mercado mais lucrativo nos últimos dois anos”, diz uma fonte.

Antes da guerra, os filmes estrangeiros — impulsionados pelos grandes lançamentos de Hollywood — representavam quase 75% da bilheteria russa, gerando US$ 410,3 milhões em 2021, segundo Maxim Ostry, editor-chefe da revista Booker’s Bulletin. Em 2019, o mercado russo rendeu quase US$ 1 bilhão para os estúdios americanos, tornando-se o maior da Europa naquele ano, de acordo com Olga Zinyakova, presidente da rede de cinemas Karo.

Hoje, a Rússia ainda figura entre os principais mercados para filmes independentes dos EUA. Longlegs, thriller da Neon, faturou US$ 4,5 milhões lá, ficando atrás apenas do Reino Unido. Já Babygirl, drama erótico da A24 estrelado por Nicole Kidman, acumula US$ 3 milhões na Rússia, atrás apenas de Holanda e Reino Unido.

Com a bilheteria global ainda se recuperando das greves em Hollywood e o mercado chinês perdendo força, o potencial russo é difícil de ignorar. “Do ponto de vista financeiro, seria um alívio significativo para o mercado global”, diz Shawn Robbins, diretor de análise de filmes da Fandango.

Um executivo de um grande estúdio afirma que o retorno à Rússia é “inevitável” e que exibidores locais já sondaram possíveis parcerias, mas ainda não há negociações sobre filmes específicos. A maioria concorda que a normalização levará tempo. Zinyakova complementa: “O mercado evoluiu. Muitos espectadores se sentiram abandonados pela saída abrupta dos estúdios, enquanto o cinema russo aproveitou para se fortalecer.”


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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