Na última terça-feira, durante o festival de documentários CPH:DOX em Copenhague, um grupo seleto de profissionais da indústria audiovisual se reuniu para um almoço privado no Palácio Odd Fellow. O encontro, que contou com a presença de emissoras europeias, financiadores, produtores e representantes do mercado norte-americano, teve como foco principal discutir os crescentes desafios enfrentados pelos documentários políticos e jornalísticos. O objetivo era encontrar alternativas para viabilizar o financiamento e a distribuição desses projetos sem depender do apoio das grandes plataformas dos EUA, como Netflix, Amazon, Apple e Disney.
Entre os participantes estavam nomes como Barbara Truyen, presidente do Grupo de Documentários da EBU; Anders Bruus, da DR (Radiodifusão Dinamarquesa); Lea Fels, sócia da produtora Scenery; Christian Beetz, CEO da alemã Beetz Brothers; e Geralyn Dreyfous, cofundadora da Impact Partners e produtora vencedora do Oscar. Também marcaram presença Mette Heide, da Plus Pictures, e Sarah Mowaswes, produtora do documentário “Untitled Edward Said Documentary”, que está sendo desenvolvido em parceria com Alex Gibney.
Mowaswes, que vive nos EUA, veio a Copenhague em busca de apoio europeio para o filme, que aborda a vida do crítico literário Edward Said, conhecido por sua defesa da causa palestina. “Tivemos acesso ao arquivo da família, o que é maravilhoso, mas sabemos que dificilmente conseguiremos distribuição nos EUA”, revelou. “Por isso, estamos aqui para conversar com financiadores europeus e encontrar parceiros dispostos a investir em uma narrativa política.” O documentário, dirigido por Maiken Baird, está sendo financiado de forma independente.
A situação reflete um cenário mais amplo: a crescente resistência dos grandes streamers norte-americanos em apoiar conteúdos políticos. Como destacou um participante do evento, as plataformas estão priorizando documentários de “escapismo”, evitando temas polêmicos. Christian Beetz, da Beetz Brothers, compartilhou sua experiência: “A Netflix costumava adquirir nossos filmes, mas agora só querem conteúdos leves, como reality shows de praia. O interesse por questões sociais e políticas desapareceu.”
Lea Fels, produtora baseada na Holanda, ressaltou a importância de uma abordagem colaborativa entre europeus e norte-americanos: “Não adianta vir com uma história puramente americana e esperar financiamento fácil. Precisamos de narrativas globais, contadas a partir de múltiplas perspectivas.” Beetz concordou, mas lembrou que o acesso aos fundos europeus, embora exista, não é simples: “Temos sistemas robustos de financiamento, mas o processo é complexo.”
Outro tema debatido foi a divisão de direitos territoriais e a redução de orçamentos. Barbara Truyen comentou, com bom humor: “Na Europa, fazemos documentários incríveis com menos dinheiro. Se conseguirmos equilibrar os custos, todos saem ganhando.” A discussão também abordou projetos em andamento, como “Tesla Files”, da Beetz Brothers, e o aguardado documentário “Musk”, de Gibney, que tem distribuição garantida pela HBO Max – embora haja dúvidas sobre se o filme será liberado, dado seu potencial polêmico.
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com