Na minha adolescência, eu adorava jogar Shoot Many Robots. Não era uma obra-prima, mas era pura diversão despretensiosa, e as memórias que tenho dele significam muito para mim. Shoot Many Robots e eu temos algo em comum: somos mortais. Só que, enquanto eu sou feito de carne e osso, o jogo foi removido da Steam a pedido da publisher. Mesmo assim, ele e outros títulos excluídos da plataforma ainda podem alcançar uma espécie de imortalidade na minha biblioteca da Steam.
Quando eu virar pó, o número de contas da Steam com acesso a Shoot Many Robots não vai mudar, mas o número de pessoas que poderão jogá-lo legalmente sim. Isso porque herdar uma conta da Steam em um testamento é tecnicamente considerado compartilhamento de conta, o que viola os termos de serviço. Algumas contas valem milhares de dólares em licenças de software, e não importa se a Steam ainda existirá daqui a 100 anos – é estranho pensar que sua conta simplesmente “morrerá” junto com você.
Claro, você pode simplesmente passar seu login e senha para um familiar antes de bater as botas, e duvido que a Valve vá caçar esses casos. Mas a erosão da posse real de mídia digital ainda parece um problema sem solução à vista, e os jogadores estão começando a se manifestar mais sobre isso. “2024 foi o ano em que os gamers realmente começaram a resistir ao desaparecimento da posse de jogos”, como destacamos no ano passado.
A Steam dificilmente vai sumir tão cedo, mas a indústria de games está cada vez mais volátil – jogos live service fecham as portas o tempo todo (ou são desligados por simplesmente envelhecerem). Isso fortaleceu a ideia de que a preservação precisa ser uma prioridade, como mostra a campanha Stop Killing Games. Lojas como a GOG se saem melhor que a Steam nesse aspecto: lá, todos os jogos são livres de DRM, e os instaladores offline podem, em teoria, ser usados para sempre. Você até pode legar sua biblioteca da GOG a alguém, desde que comprove seu próprio falecimento.
Mas a GOG admite que há “pouca ou nenhuma orientação legal sobre a preservação de videogames”. O problema não é só a falta de padrões, mas a ausência de precedentes. Tudo isso é muito recente. Os jogadores estão exigindo mais transparência e direitos sobre a posse digital de jogos. Se a mídia física não é mais a resposta para tudo, alternativas digitais sustentáveis podem ser necessárias para garantir que possamos deixar nossos jogos para as próximas gerações. Ao mesmo tempo, o DRM não vai desaparecer. Qual seria, então, o meio-termo?
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Este artigo foi inspirado no original disponível em pcgamer.com.