O primeiro longa-metragem de Anette Ostrø, “The Golden Swan”, levou quase 30 anos para ser realizado. A cineasta, experiente em documentários para televisão, finalmente sentiu-se preparada para contar a história de seu irmão, Hans Christian, um ator norueguês sequestrado e assassinado por um grupo terrorista durante uma viagem à Índia em 1995. O filme, inicialmente apresentado no IDFA, está em pós-produção e foi um dos cinco projetos exibidos no programa de indústria do festival Visions du Réel, na Suíça.
Em julho de 1995, Hans Christian e outros cinco turistas (dos EUA, Reino Unido e Alemanha) foram sequestrados na Caxemira. O caso ganhou as manchetes mundiais. Cinco semanas depois, o corpo decapitado de Hans Christian foi encontrado. Um refém conseguiu escapar, enquanto os outros quatro desapareceram sem deixar vestígios. “The Golden Swan” combina fotografias, vídeos caseiros, reportagens e gravações originais dos reféns, incluindo imagens de Hans Christian em um curso de dança em Kerala, antes de sua viagem fatal.
O cerne do documentário, porém, está nos escritos de Hans Christian — cartas, diários e poemas, muitos encontrados em seu corpo. Os reféns também escreveram mensagens em cascas de árvore com carvão, escondendo-as sob pedras e entre folhagens na esperança de que alguém as encontrasse. “Escrevi cartas para ele enquanto estava em Kerala e continuei escrevendo mesmo após seu sequestro. O filme começa com um sonho em que ele volta vivo — é um diálogo entre nós”, revela Ostrø, que contratou um ator para narrar os textos do irmão.
Através desses registros, a diretora descobriu que Hans Christian tentou fugir três vezes e chegou a fazer greve de fome. Para retratar seu mundo interior, ela usou “visualização artística”, filmando paisagens da Índia e da Noruega com jogos de luz, sombra e exposição dupla, criando camadas que evocam seus medos e emoções.
O filme traça uma jornada íntima que Ostrø considera profundamente relevante hoje. “Ele poderia ter partido cheio de ódio e raiva — e ele sentiu isso, afinal, sua liberdade foi roubada. Mas, no fim, escolheu a paz. Sua poesia mostra essa transição do ódio para a reconciliação, até mesmo com seus sequestradores”, explica. “Escolher a reconciliação em vez do ódio é a mensagem deste filme. Vivemos tempos polarizados, mas precisamos de diálogo, de enxergar nossa humanidade compartilhada.”
Ostrø e a produtora Beathe Hofseth (“Light Fly, Fly High”) participaram do Visions du Réel em busca de financiamento final e parceiros de distribuição para um lançamento previsto entre 2025 e 2026. “The Golden Swan” é uma produção da Fri Film e da dinamarquesa Made in Copenhagen, com apoio de institutos de cinema noruegueses, suecos e holandeses, além de fundos culturais e emissoras como NRK e DR.
Outros destaques do evento norueguês incluíram “Strangers & Stayers”, “The Universe Is My Selfie” e “Hope Is a Word”, reforçando a cena documental do país após sucessos como o Oscarizado “No Other Land” e “The Remarkable Life of Ibeli”, vencedor em Sundance.
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com