O TCM Classic Film Festival, que acontece este ano entre 24 e 27 de abril em sua 16ª edição, chega em um momento crucial tanto para a rede TCM quanto para o cinema clássico em geral. Com uma nova geração de cinéfilos lotando sessões de filmes vintage em Los Angeles e além, o festival está se adaptando aos tempos, usando TikTok e criadores de conteúdo para ampliar seu alcance.
Desde janeiro, a TCM exibiu a série “New Voices of Film”, na qual três criadores de conteúdo e apaixonados por cinema apresentaram filmes de sua escolha para serem exibidos na programação da rede. As seleções variaram desde o melodrama “All That Heaven Allows”, de Douglas Sirk, até a comédia pré-Código Hays “Merrily We Go to Hell” e o clássico de Billy Wilder “A Foreign Affair”. Mas, para conquistar o público mais jovem, a TCM também intensificou sua presença nas redes sociais, criando vídeos curtos no TikTok e Instagram que fazem paralelos entre filmes contemporâneos e clássicos.
Um exemplo? Clara Bow em “It” (1927) sendo associada ao conceito de “brat summer” dos anos 1920. Ou o triângulo amoroso de “Challengers” (2023) comparado ao de “Design for Living” (1933), de Ernst Lubitsch. Esses vídeos chamaram a atenção de Isabel Custodio, criadora do canal “Be Kind Rewind” no YouTube, que participou da série da TCM. Seu canal, focado na história do cinema com uma perspectiva feminina, já soma 330 mil inscritos.
“Eles usam gírias modernas ou a linguagem do TikTok dentro do contexto de um filme clássico. Isso abre portas para novos públicos, usando um vocabulário que eles já reconhecem — uma estratégia muito inteligente”, diz Custodio à Variety. “Quando estive no festival há alguns anos, os executivos estavam animados com essa abordagem.”
Realizado nos históricos cinemas de Hollywood Boulevard — como o TCL Chinese Theatre, o Egyptian Theatre e o El Capitan —, o festival oferece uma programação diversificada, desde blockbusters como “O Império Contra-Ataca” (abertura no dia 24) até obras menos conhecidas, como “Diamond Jim” (1935), considerado um “deep cut” para os fãs mais hardcore da TCM. Filmes dos anos 1960 em diante, como “Mothra”, “Monty Python e o Cálice Sagrado” e “Car Wash”, ajudam a expandir o conceito de “filme clássico”.
Para Genevieve McGillicuddy, diretora executiva do festival, o evento é uma chance de celebrar uma “mistura multigeracional”, embora ela observe que o perfil do público não mudou “drasticamente” ao longo dos anos. “Não temos um mandato único para atingir um público específico, mas queremos representar a profundidade e a diversidade da história do cinema”, explica.
Além das exibições, o festival terá cerimônias de impressões de mãos e pés — neste ano, Michelle Pfeiffer será homenageada no TCL Chinese Theatre no dia 25, seguido de uma sessão de “Os Bons Companheiros” (1989). Para Brandon Johnston, criador de TikTok e entusiasta da história do cinema, eventos como esse são raras oportunidades de ver lendas vivas discutindo seu trabalho pessoalmente. “Estamos no fim de uma era em que estrelas da Era de Ouro ainda podem compartilhar suas experiências em primeira mão”, reflete.
Outro tema importante para a TCM é como lidar com filmes que contêm conteúdo datado ou ofensivo. McGillicuddy destaca a importância do contexto: “Não queremos apenas deixar de exibir certos filmes, mas sim discutir por que foram feitos daquela maneira e o que representam”. Johnston concorda: “Se contextualizarmos demais, podemos acabar menosprezando conquistas históricas, como o Oscar de Hattie McDaniel por ‘…E o Vento Levou’”.
Para Custodio, o festival é um dos últimos espaços onde amantes do cinema clássico podem celebrar sua paixão juntos. “As pessoas conversam na fila, trocam indicações… Não é um evento onde todos correm para garantir um lugar na próxima estreia. Estão ali porque amam cinema”, finaliza.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com