Landon Zakheim e Michael Lerman, cofundadores do Overlook Film Festival — um evento de quatro dias dedicado a gêneros cinematográficos específicos — representam a dualidade dos fãs de horror. Enquanto Lerman é um especialista em sequências de franquias slasher, Zakheim assume um gosto mais “pretensioso”, preferindo filmes giallo e experimentais. Juntos, eles criaram um festival voltado para os fãs que rapidamente se tornou um dos eventos mais cobiçados de Nova Orleans. “Sempre discutíamos a diferença entre o lado empresarial do cinema e o caos de um festival versus a verdadeira definição da palavra ‘festival’, que é celebração”, diz Zakheim sobre a edição recente, realizada entre 3 e 6 de abril. “Na época, o gênero horror não estava no boom que vemos hoje, o que é maravilhoso. Mas esse nicho do circuito de festivais é repleto de cineastas generosos, fãs apaixonados e pessoas dispostas a se ajudarem. Tínhamos muitas ideias.”
Zakheim e Lerman são veteranos do circuito: o primeiro foi curador de curtas no Sundance, programador associado no Tribeca e programador sênior no Philadelphia Film Festival, enquanto Lerman é diretor artístico da Philadelphia Film Society e já trabalhou na curadoria do Toronto International Film Festival e do Fantastic Fest. Em 2016, decidiram levar adiante a ideia de um novo festival e, em 2017, realizaram a primeira edição do Overlook no Timberline Lodge, no Oregon — o mesmo local que serviu como exterior do Overlook Hotel em O Iluminado, de Stanley Kubrick. O espaço funcionou bem no início, mas condições climáticas adversas e limitações de estrutura os obrigaram a buscar um novo lar. Nova Orleans foi escolhida como sede permanente em 2018 (com exceção das edições online durante a pandemia).
“Ficou claro que precisávamos de salas de cinema de verdade e de uma cidade vibrante. Nova Orleans surgiu como a opção ideal”, explica Zakheim. “Tínhamos conexões aqui, uma equipe local disposta a ajudar e parceiros interessados em nos receber. Não queríamos chegar a um lugar onde não pudéssemos agregar valor. Respeitamos a cultura cinematográfica local e queríamos apoiá-la. Conversamos com todas as organizações de cinema, e a receptividade foi incrível.”
A cidade, conhecida por sua história assombrada, mostrou-se o cenário perfeito, e a fama do festival só cresce. Este ano, os passes “Final Girl” — com o preço irônico de US$ 666 — esgotaram em um dia, antes mesmo da programação ser divulgada. “Não temos exigência de estreias mundiais”, diz Zakheim. “Buscamos apenas os melhores filmes de horror. Por isso, o público já reserva suas viagens antes do anúncio da programação. Eles sabem que encontrarão tanto o que esperam quanto surpresas que ainda não conhecem. Isso nos motiva a garimpar cada produção.”
Além de filmes inéditos (como a estreia mundial da sequência de Drácula, Abraham’s Boys, e sucessos do SXSW, como Clown in a Cornfield e LifeHack), a programação incluiu retrospectivas (como a restauração em 4K de Re-Animator por seu 40º aniversário) e experiências além da tela: painéis com autores como Joe Hill e Grady Hendrix, competições de trivia, festas noturnas no Toulouse Theater e até um desfile second line com um toque macabro, patrocinado pelo serviço de streaming Shudder, que celebrava seus 10 anos.
Para Zakheim e Lerman, essas experiências únicas são a essência do Overlook. Um dos destaques foi a exibição de 13 Ghosts (1960), de William Castle, com óculos “Illusion-O” que permitiam ver — ou ignorar — os fantasmas da tela. A sessão foi precedida por um número de mágica inspirado nos espetáculos sobrenaturais da Grande Depressão, culminando em um “ataque fantasma” no auditório e o “desmaio” do mágico no palco.
Os fundadores celebram a evolução do projeto, que começou de forma modesta. “Landon aprendeu a captar recursos, algo que não sabia no início”, comenta Lerman. “Todo o capital veio de nós dizendo: ‘Vamos fazer isso’. Investimos um pouco do nosso dinheiro, vendemos passes e usamos o valor para alugar os cinemas. Não tínhamos um investidor milionário.”
Quanto ao futuro, eles querem expandir os limites do festival, mas mantendo a qualidade e a atmosfera intimista — afinal, a equipe é totalmente voluntária. “Temos uma lista de ideias, como shows temáticos e teatro imersivo, mas tudo depende de recursos e parcerias criativas”, diz Zakheim. Quando tudo se encaixa, a magia acontece: em 2023, durante a exibição de The Tingler, o público viveu um momento de conexão única. “Era como se todos amassem o horror pelas mesmas razões”, lembra. “Naquela escuridão, era exatamente o que buscávamos.”
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com