O cinema brasileiro ganha destaque no Festival de Cannes com uma seleção potente e engajada do Festival do Rio Goes to Cannes, que leva filmes que exploram questões raciais, de gênero e o avanço do ultraconservadorismo. Entre as produções em exibição estão “Clarice e as Estrelas”, primeiro filme como produtor do astro do futebol Vinicius Jr., e o ousado “Amanda e Caio”, com elenco totalmente transgênero. A mostra acontece no Marché du Film em 17 de maio, integrando as celebrações do Brasil como País Homenageado no evento.
“Clarice e as Estrelas”, uma fantasia poética sobre amadurecimento, é produzido pela Luminar em parceria com o Instituto Vini Jr., ONG fundada pelo jogador do Real Madrid para promover educação em comunidades carentes. Já “Amanda e Caio”, dirigido por Daniel Ribeiro (vencedor do Teddy Award no Berlinale), retrata um relacionamento em transformação com sensibilidade e um marco na representatividade trans no cinema.
Além desses, outros títulos brasileiros brilham em Cannes, como “O Agente Secreto” de Kleber Mendonça Filho (em competição) e “A Cobra Preta” (na mostra ACID). O Brasil também marca presença em seleções de mercado, como o premiado “Ana, en passant” (focado no luto) e produções do Blood Window, dedicado ao gênero.
A curadoria reflete a diversidade e os debates urgentes no Brasil. “Amanda e Caio” desafia estereótipos ao retratar uma história de amor universal com personagens trans. Já “Irmãs de Criação” aborda racismo e colorismo no seio de uma família negra, enquanto “Mulheres Virtuosas” mistura horror e crítica social ao satirizar o fundamentalismo religioso.
O financiamento público tem papel crucial: após cortes no governo Bolsonaro, recursos como o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e leis de incentivo regional impulsionaram essas produções. “Irmãs de Criação”, por exemplo, contou com verba da Lei Paulo Gustavo para finalização.
Os filmes em destaque:
“Amanda e Caio” (Daniel Ribeiro): Um casal trans enfrenta mudanças quando Amanda conhece outra pessoa. “Um drama sobre afeto e transformação, com emoções que todos reconhecem”, diz a produtora Diana Almeida.
“Clarice e as Estrelas” (Letícia Pires): Uma menina descobre um circo mágico para lidar com ciúmes do irmão recém-nascido. “Uma celebração da infância e da resiliência”, define o produtor Marcos Pieri.
“Irmãs de Criação” (Carol Rodrigues): Duas primas negras revisitam traumas familiares em um drama com elementos sobrenaturais. “Sobre perdão e cura”, explica a diretora.
“Mulheres Virtuosas” (Cíntia Domit Bittar): Um retiro cristão vira pesadelo em um horror feminista. “Expõe o perigo dos movimentos reacionários”, afirma a cineasta.
“Nós Não Estamos Sonhando” (Ulisses Arthur): Um estudante de medicina mergulha no mundo da música eletrônica. “Mostra a juventude negra ocupando espaços de poder”, destaca o diretor.
Com diretoras estreantes, elencos diversos e narrativas inovadoras, esses filmes provam que o cinema brasileiro está mais vibrante e necessário do que nunca.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com