Gaetan Bruel, Novo Presidente da CNC, Comenta Imposto de Trump e Indústria Francesa no Contexto do #MeToo

Gaetan Bruel, o novo presidente do CNC (Centro Nacional do Cinema da França), assumiu o cargo em um momento crucial para a indústria cinematográfica. Enquanto um de seus objetivos é elevar o perfil internacional da França e aumentar o volume de produções estrangeiras no país, Bruel, assim como grande parte do cinema europeu, tem lidado com as declarações alarmantes do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que propôs uma tarifa de 100% sobre filmes produzidos fora dos Estados Unidos.

Bruel, de 37 anos, conhece o mercado americano melhor do que qualquer um de seus antecessores no CNC. Ele morou nos EUA entre 2019 e 2023 como chefe dos Serviços Culturais Franceses, uma divisão da embaixada francesa presente em nove cidades americanas. Durante esse período, trabalhou em parceria com o CNC para promover talentos franceses e o setor audiovisual do país nos EUA, além de ter ajudado a criar o Villa Albertine, um programa de residência para artistas franceses nos Estados Unidos.

Em entrevista à Variety no Festival de Cannes, que começa hoje com o filme “Leave One Day”, de Amelie Bonnin, Bruel comentou as declarações de Trump e destacou: “O cinema europeu representa apenas 1% das bilheterias nos EUA, enquanto o cinema americano responde por 60% das bilheterias na Europa.” Sem revelar planos concretos de uma possível retaliação, Bruel afirmou que a França “permanecerá vigilante e reagirá se for afetada.”

Ele também rebateu a afirmação do CEO da Netflix, Ted Sarandos, de que o modelo de cinema está “ultrapassado”, argumentando que a plataforma deveria se preocupar mais com as redes sociais, que, segundo ele, “ameaçam tanto o streaming quanto o cinema.” Bruel citou um estudo recente que indica que cinema e streaming “não são mais excludentes.”

Em meio ao caso do ator francês Gérard Depardieu, condenado a 18 meses de prisão suspensa por assédio sexual, Bruel também comentou o relatório da comissão parlamentar francesa que apontou o assédio e a violência sexual como “endêmicos” na indústria do entretenimento. Ele destacou as medidas implementadas pelo CNC nos últimos cinco anos para combater o problema, incluindo workshops e políticas de paridade de gênero, além de subsídios para projetos que promovam a diversidade.

Trump, Hollywood e o futuro do cinema

Sobre a proposta de Trump de taxar filmes estrangeiros, Bruel foi cauteloso: “Percebemos isso com cuidado. Por um lado, é coerente com o discurso de Trump sobre realocar produções. Por outro, isso entra em conflito com a estratégia histórica de Hollywood, que sempre foi baseada na exportação e na produção local.”

Ele questionou: “Um modelo em que a Netflix produz 100% nos EUA, mas tem 70% de seus assinantes fora da América do Norte, é viável? O cinema mostra os limites de uma visão isolacionista em um mundo globalizado.”

O atrativo da França para produções internacionais

Bruel destacou que a França se modernizou para se tornar um polo de filmagens, com estúdios ampliados, tecnologia de ponta e incentivos fiscais de até 40%. “A França não é mais apenas um destino turístico pós-filmagem. Temos equipes bilíngues, cenários naturais deslumbrantes e acesso facilitado a locações históricas, como partes inexploradas do Palácio de Versailles.”

Ele também mencionou o sucesso de produções francesas com orçamentos menores, como “The Substance”, de Coralie Fargeat, que custou US$ 18 milhões na França, mas chegaria a US$ 80 milhões nos EUA.

Cinema x Streaming: Uma rivalidade ultrapassada?

Sobre a polêmica declaração de Sarandos, Bruel ponderou: “Na década de 2010, o crescimento do streaming ameaçou o cinema. Hoje, os dois coexistem. O verdadeiro desafio são as redes sociais, que capturam a atenção das novas gerações.”

Ele anunciou uma reforma no sistema educacional francês para incluir o cinema como parte do currículo escolar, combatendo a “crise de atenção” causada pelas redes sociais. “Queremos que 100% dos alunos tenham acesso ao cinema e desenvolvam uma cultura cinematográfica.”

Combate ao assédio na indústria

Bruel reconheceu os problemas estruturais do setor, mas destacou as ações do CNC: “Nos últimos cinco anos, condicionamos nossos financiamentos à capacitação em prevenção ao assédio. Já treinamos 6.800 profissionais e estamos ampliando para todas as equipes de filmagem.”

Ele encerrou com um tom de esperança: “O cinema tem o poder de inspirar, e precisamos garantir que isso aconteça em um ambiente respeitoso. A França está liderando essa mudança.”


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

Deixe um comentário