Assista a “Good Night, and Good Luck” na Broadway, sentado a sete fileiras do palco, e você certamente sentirá o cheiro dos cigarros de cena. Os cigarros — e o declínio do Quarto Poder — roubaram a cena durante a estreia da peça no Winter Garden Theatre, em Nova York. Enquanto celebridades exibiam seus vapes, jornalistas na plateia absorviam o chamado à ação de George Clooney sob uma névoa de reflexão. Presentes estavam nomes como Jake Tapper, George Stephanopoulos, Lesley Stahl, Chris Wallace, Rachel Maddow e o presidente da CBS, George Cheeks, ao lado de astros como Drew Barrymore, Uma Thurman e Lorne Michaels.
O tapete vermelho, montado diante do imponente letreiro do teatro, foi um espetáculo à parte. Milhares de fãs se aglomeraram nas ruas quando Jennifer Lopez, colega de Clooney em “Fora de Alcance”, apareceu de vestido preto e uma capa branca esvoaçante.
A peça é uma adaptação quase literal do filme de 2005, que retrata o embate televisivo de Edward R. Murrow contra o senador Joseph McCarthy durante o macarthismo. Porém, pequenas adições traçam um paralelo claro com os desafios atuais do jornalismo. “A peça é mais emocional que o filme”, disse Grant Heslov, parceiro de produção e roteiro de Clooney, à Variety. “E o final segue um rumo bem diferente.”
Em uma cena crucial, o presidente da CBS, William Paley, interpretado por Paul Gross, questiona o precedente aberto por Murrow: “Nós não fazemos as notícias, nós as reportamos”. O diálogo antecipa o final impactante da peça: um montagem frenética dos momentos marcantes do jornalismo televisivo, exibidos em TVs de tubo nos cantos do palco. Começando com eventos históricos, como o pouso na Lua, as imagens se tornam cada vez mais caóticas e sensacionalistas conforme avançam para a era atual.
“Não é só uma crise do jornalismo. É um problema da sociedade capitalista”, refletiu Clark Gregg, que interpreta o jornalista Don Hollenbeck. “Em algum momento, precisamos definir qual é o objetivo final: o lucro ou a verdade?”
A peça chega em um momento crítico para a imprensa tradicional. Enquanto programas consagrados lutam por audiência, a confiança na mídia atingiu seu nível mais baixo — apenas 31% dos americanos confiam na imprensa em 2024, contra 68% em 1972. “Temos sorte porque a CNN nos apoia a reportar a verdade, mesmo que isso incomode”, comentou Jake Tapper. “Mas há veículos cedendo à pressão, e isso é preocupante.”
Um dos momentos mais marcantes da noite foi o monólogo de Clooney como Murrow, rebatendo acusações de simpatias comunistas. A plateia reagiu com murmúrios de aprovação. “O melhor a fazer é ouvir os dois lados”, disse o convidado Richard Kind. “Eu detesto a Fox News, mas a escuto sempre. A verdade está lá fora.”
Após o espetáculo, Clooney apareceu brevemente no tapete vermelho, impecável como sempre. Questionado sobre a ausência da esposa, Amal, ele respondeu com um sorriso: “Ela está com as crianças”. A festa pós-estreia, realizada na Biblioteca Pública de Nova York, reuniu amigos e colegas, como os ex-colegas de “Plantão Médico” Julianna Margulies, Anthony Edwards e Noah Wyle.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com