Hollywood em Crise: Qatar Faz Movimentos em Cannes

O Catar, pequeno estado árabe rico em petróleo e gás, que recentemente ofereceu um jato de US$ 400 milhões para substituir o Air Force One de Donald Trump — descrito como um “palácio no céu” —, está em Cannes demonstrando suas ambições de elevar sua incipiente indústria de cinema e TV a um novo patamar. O Qatar Film Committee, órgão oficial vinculado ao Media City Qatar e responsável por impulsionar o crescimento do setor de entretenimento do país, marca presença no festival sob a liderança de Hassan Al Thawadi, o advogado catari que supervisionou a Copa do Mundo da FIFA 2022, considerada um triunfo nacional. Agora, Al Thawadi também assume a supervisão da indústria cinematográfica.

Além disso, duas fontes familiarizadas com o cenário global do cinema revelaram que importantes figuras do emirado iniciaram conversas com executivos de Hollywood sobre cofinanciamento e produção de conteúdo original. O momento é propício: enquanto Hollywood busca novas fontes de capital, o Catar tenta diversificar sua economia, migrando do setor energético para formas de poder brando, como cultura e mídia.

Para os estúdios, encontrar investidores tem se tornado cada vez mais difícil. Wall Street perdeu o interesse no setor, visto como superalavancado após anos de investimentos em plataformas de streaming, muitas das quais ainda não geram lucro. Outro desafio é o afastamento de mercados antes promissores, como a China, que agora prioriza sua própria indústria audiovisual.

Com uma presença inédita no sul da França este ano, o Catar sinaliza seu potencial como parceiro de Hollywood, embora seu objetivo final seja desenvolver uma indústria local. Também em Cannes está a Katara Studios, sediada em Doha e responsável pelas cerimônias de abertura e encerramento da Copa do Mundo. O estúdio está acelerando a produção de filmes para o mercado internacional, incluindo Sakhr, biografia do pioneiro kuwaitiano Mohamed Al Sharekh, criador do primeiro sistema operacional em árabe, e Sari & Amira, longa de fantasia sobre um casal de beduínos fora da lei em busca de um tesouro lendário, dirigido por AJ Al Thani.

O consagrado Doha Film Institute (DFI), que celebra 15 anos em 2024, está em Cannes com oito filmes apoiados por seus fundos, incluindo Era Uma Vez em Gaza, dos palestinos Tarzan e Arab Nasser. O Catar, peça-chave nas negociações do fracassado cessar-fogo entre Hamas e Israel, é um forte defensor do cinema palestino. O DFI é um dos principais impulsionadores da indústria cinematográfica no Oriente Médio e Norte da África (MENA), promovendo eventos como o Qumra — incubadora e mercado de coprodução que em abril realizou sua 11ª edição em Doha, com mentores como Johnnie To, Walter Salles e Darius Khondji.

Na Croisette, a CEO do DFI, Fatma Hassan Alremaihi, anunciará planos para transformar o Ajyal Film Festival — atualmente focado em cinema familiar e juvenil — em um evento internacional mais ambicioso. A nova versão do festival, que estreia em novembro na capital catariana, “representa o próximo passo na jornada de liderança cultural do Catar”, afirmou Alremaihi à Variety.

Brent Lang contribuiu para este relatório.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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