O empreendedor indiano Vipul Agarwal está investindo US$ 3 milhões na aposta de que o próximo universo de super-heróis não terá sotaque americano. Em um mundo saturado de conteúdo, Agarwal acredita que o próximo Marvel ou Harry Potter não virá de Nova York ou Los Angeles, mas das terras culturalmente ricas da Índia, do Sudeste Asiático ou do Oriente Médio. Como fundador e CEO da Mugafi, ele está usando inteligência artificial para criar o que chama de “o melhor modelo de ficção do mundo” enquanto desenvolve franquias originais baseadas em mitologias regionais — que podem se tornar os pilares do entretenimento global no futuro.
“A base de qualquer grande filme é uma história excepcional”, diz Agarwal em entrevista à Variety. “É nisso que nossa equipe trabalhou nos últimos quatro anos. Hoje, temos um dos melhores modelos de ficção do mundo, aprovado por mais de 10 mil escritores.” O nome da empresa, “Mugafi”, reflete sua ambição: uma junção das iniciais de music, games e film (música, jogos e cinema).
Recentemente, a startup captou US$ 3 milhões em um investimento liderado por StartupXseed e Proneur Network, com participação de Auxano, BeyondVP, MarsshotVC (fundo dos criadores da Razorpay) e investidores como Kunal Shah e Roshan Abbas. A Mugafi atua tanto como plataforma tecnológica quanto como geradora de propriedade intelectual.
Seu carro-chefe é o Ved, uma ferramenta de escrita com IA que funciona como um “Canva para roteiros”, simplificando a criação de narrativas. A plataforma ajuda escritores a finalizar scripts mais rápido, verificar plágio, manter consistência nos diálogos e analisar a qualidade do material. “Queremos reduzir tempo e custo — se um estúdio gastava US$ 100 milhões em dois anos, podemos fazer em três meses por US$ 10 milhões?”, questiona Agarwal. “Também buscamos aumentar a previsibilidade. Hoje, só 2% dos projetos têm sucesso. Podemos elevar isso para 5% ou 10% com IA?”
Diferente de ferramentas que geram conteúdo automaticamente, o Ved segue uma abordagem de “modelo de mentoria”, sem substituir a criatividade humana. “IA não cria grandes histórias — ela só reproduz dados que alimentamos. Originalidade ainda está distante”, explica. A Mugafi já auxiliou mais de 30 mil escritores, incluindo produções como Fukrey 3 (da Excel Entertainment) e o filme regional Dhadaam.
Além da tecnologia, a empresa está criando franquias originais inspiradas em mitologias da Índia e do Oriente Médio. Dois universos estão em desenvolvimento: Moksh (um reino mágico baseado em lendas asiáticas) e Kali (focado em temas bélicos). Só para Moksh, há planos para 1.600 quadrinhos, com os primeiros lançamentos previstos ainda este mês.
Agarwal destaca o potencial inexplorado de narrativas regionais: “As Mil e Uma Noites têm 1.001 histórias, mas só conhecemos Aladdin. Há 998 esperando para serem contadas.” Nascido em pequenas cidades da Índia, o empreendedor — que vendeu sua primeira startup aos 19 anos — vê na Mugafi sua missão mais pessoal: “O mundo tem a Marvel, com personagens inspirados na Índia. Por que não podemos ter nosso próprio universo?”
Com escritórios na Índia, Arábia Saudita e Emirados Árabes, a Mugafi planeja expandir seus recursos para o árabe e outras línguas. Agarwal também vislumbra oportunidades no Web3: “As pessoas buscam novos ativos para investir. Podemos permitir que apostem no próximo Avengers?” Enquanto isso, 10% do financiamento recente foi direcionado a P&D em parceria com a renomada escola de cinema Whistling Woods.
Se a Mugafi vai mesmo criar a próxima grande franquia global ainda é uma incógnita, mas Agarwal está certo de que o Oriente tem minas de ouro narrativas prontas para conquistar o mundo — com a IA como copilota.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com