Sou um grande fã de tecnologias inovadoras e, ao mesmo tempo, da conservação ambiental. À primeira vista, esses interesses podem parecer opostos, mas a verdade é que precisamos muito de ambos, especialmente quando trabalham juntos. Um exemplo que me chamou a atenção recentemente vem de uma startup do Reino Unido que está desenvolvendo enzimas capazes de “comer” plástico, uma solução promissora para lidar com o problema do fast fashion.
A TechCrunch destacou a Epoch Biodesign, uma empresa que está levando adiante um projeto iniciado por seu fundador, Jacob Nathan, ainda no ensino médio. A startup acaba de receber US$ 18,3 milhões em financiamento da Série A para aprimorar essas enzimas e, quem sabe, colocá-las em ação em larga escala. O investimento será usado para ampliar a produção, com a ajuda da inteligência artificial, e aumentar a eficiência das enzimas já desenvolvidas. A Epoch planeja dobrar seu quadro de funcionários este ano e iniciar a produção em escala comercial até 2028.
Mas vamos falar mais sobre essas enzimas. Para quem não sabe, as enzimas são verdadeiras “máquinas” biológicas. Elas são proteínas que atuam como catalisadoras de reações químicas, e costumam ser altamente especializadas. Sem elas, muitas dessas reações seriam extremamente lentas ou até mesmo impossíveis. As enzimas estão por toda parte na natureza, e você as usa diariamente. Um exemplo é a amilase, presente na sua saliva, que ajuda a quebrar amidos em açúcares para facilitar a digestão. Sim, você está cheio de enzimas, e elas estão aí, ao seu redor, “comendo” sua comida.
Existem enzimas naturais que decompõem plásticos, mas elas não foram projetadas para lidar com a quantidade que produzimos. Elas são limitadas a certos tipos de plástico e costumam ser muito lentas. A Epoch Biodesign partiu desse conceito e usou tecnologia para encontrar e desenvolver catalisadores mais eficientes, capazes de quebrar resíduos plásticos em um ritmo muito mais acelerado do que a natureza consegue.
A biologia, de modo geral, é extremamente complexa, com grandes cadeias de dados e inúmeras variáveis. Esse é o cenário ideal para a aplicação da inteligência artificial, especialmente modelos de linguagem que podem processar esses dados muito mais rápido do que qualquer ser humano. Isso permitiu que a Epoch analisasse uma quantidade impressionante de variações e selecionasse as poucas que realmente podem cumprir a tarefa proposta, refinando-as ainda mais. É como acelerar a evolução, e os resultados têm sido incríveis.
O processo de biorreciclagem desenvolvido pela Epoch traz outras vantagens. Em primeiro lugar, ele é altamente eficiente, com menos de 10% do material reciclado sendo desperdiçado. Graças ao uso das enzimas, não há subprodutos indesejados, e elas podem até remover químicos prejudiciais de certos plásticos. Além disso, o método atual da equipe não requer o uso de calor, como em outros processos de reciclagem, o que o torna mais barato e energeticamente eficiente.
Se tudo correr conforme o planejado, em breve veremos as enzimas da Epoch devorando poliéster e dois tipos de náilon. A equipe já está trabalhando na transferência e ampliação de sua primeira unidade de produção, que deve entrar em operação ainda este ano. Quando estiver funcionando em plena capacidade, Nathan estima que as enzimas vorazes serão capazes de processar cerca de 150 toneladas de plásticos do fast fashion por ano. Saboroso, não?
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Este artigo foi inspirado no original disponível em pcgamer.com.