Para Michelle Zauner, líder do Japanese Breakfast e autora do best-seller Crying in H Mart, contar histórias é essencial. Seu talento único como compositora levou o grupo de indie-pop ao sucesso mainstream após o álbum Jubilee (2021), que rendeu duas indicações ao Grammy. Depois de alcançar reconhecimento comercial e crítico, Zauner tinha clareza sobre o rumo que queria dar à sua música. “Se esse for o auge da minha carreira, quero criar algo honesto, interessante e inesperado”, ela diz em entrevista à Variety. Fiel aos seus princípios criativos, Zauner recusou o pedido da gravadora para produzir clipes curtos para Mega Circuit, segundo single do quarto álbum, For Melancholy Brunettes (and Sad Women), preferindo investir em um videoclipe tradicional. “Não tenho interesse em fazer algo sem narrativa”, afirma.
O clipe de Mega Circuit, dirigido por ela, mostra Zauner interpretando um adolescente andando de quadriciclo na floresta, uma crítica à masculinidade e à violência ensinada aos meninos. O trabalho reforça sua habilidade em explorar dinâmicas sociais complexas e suas repercussões nas relações interpessoais. For Melancholy Brunettes é um álbum repleto de referências literárias e mitológicas, com narrativas visuais que retratam personagens em situações intricadas. O título, inspirado em um conto de John Cheever, reflete o tom melancólico da obra, marcada por acordes dissonantes e atmosferas sombrias — um contraste deliberado com o clima vibrante de Jubilee.
O Japanese Breakfast se apresentará no Coachella em 12 e 19 de abril, antes de embarcar em uma turnê internacional. Zauner adianta que o show terá elementos teatrais, inspirados no caráter narrativo do novo álbum, além de projeções animadas criadas por Greg Kythreotis, colaborador do jogo Sable. “Queremos algo especial e bem pensado”, revela.
Sobre a pressão de repetir o sucesso de Jubilee, Zauner é categórica: “Não queria virar uma banda pop de estádio. Este álbum é minha chance de explorar algo profundo e desafiador”. A parceria com o produtor Blake Mills foi crucial para destacar a guitarra, instrumento central no novo trabalho. Ela também reflete sobre a evolução como musicista: “São as melhores letras que já escrevi. Estou mais intencional em cada detalhe”.
Zauner também comenta sua tendência a assumir personagens masculinos em suas letras, como em Lindsey (do projeto Little Big League), explicando que é uma forma de entender perspectivas que lhe são estranhas. Já as referências mitológicas, como em Leda, atraem-na pela complexidade moral dos deuses, figuras poderosas mas falhas. Sobre dirigir seus próprios clipes, ela brinca: “Comecei por falta de verba, mas hoje é parte da minha identidade artística”.
Por fim, Zauner fala sobre sua contribuição para Materialists, filme de Celine Song: “A A24 me chamou, e tentei compor algo romântico, porém inteligente”. A música aparece no trailer, marcando mais uma colaboração de sucesso em sua carreira multifacetada.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com