O 59º Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary prestará uma homenagem ao astro norte-americano das telas dos anos 1940, John Garfield. “Estamos animados para reviver a carreira excepcional, mas um tanto esquecida, de um pioneiro da atuação realista, exibindo 10 de seus filmes”, declarou Karel Och, diretor artístico do festival e curador da retrospectiva. “Pelo menos oito deles serão exibidos em cópias originais de 35mm.”
Nascido em 4 de março de 1913 como Julius “Julie” Garfinkle, Garfield foi um dos primeiros a cativar plateias do cinema e do teatro com um estilo de interpretação que mais tarde ficaria conhecido como Method Acting. Precursor das técnicas difundidas pelo Actors Studio, ele influenciou ícones como Marlon Brando, James Dean e Paul Newman. Sua trajetória, no entanto, foi marcada pelo contexto político dos EUA. Sua estreia nos palcos coincidiu com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, e suas atuações intensas — tanto no teatro quanto no cinema — refletiam sua consciência social e vivência à margem da sociedade.
O talento de Garfield logo chamou a atenção de Hollywood, e Jack Warner o contratou por sete anos. Ao lado de lendas como Humphrey Bogart e Bette Davis, ele se destacou imediatamente. Seu papel de estreia como o sedutor amargurado Mickey Borden em “Four Daughters” (1938) rendeu-lhe uma indicação ao Oscar. Mesmo em meio à produção industrializada de Hollywood, Garfield brilhou em filmes como “They Made Me a Criminal” e “Dust Be My Destiny” (ambos de 1939), onde sua autenticidade única transformou dramas sociais em obras memoráveis.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Garfield teve seu alistamento recusado por problemas cardíacos, mas seu patriotismo transbordou em “Pride of the Marines” (1945), um drama sensível sobre um soldado ferido tentando se reintegrar à vida civil. Sua versatilidade permitia-lhe transitar entre personagens carismáticos e vulneráveis, como no noir “The Postman Always Rings Twice” (1946) ou no melodrama musical “Humoresque” (1946).
Em busca de liberdade criativa, Garfield fundou sua própria produtora e rodou dois clássicos do cinema noir: “Body and Soul” (1947), um marco dos filmes de boxe que influenciou “Rocky”, e “Force of Evil” (1948), crítica contundente ao capitalismo. Porém, sua carreira foi abalada pelo macarthismo. Incluído na lista negra do panfleto Red Channels, ele viu seu último trabalho, “The Breaking Point” (1950), boicotado nas bilheterias. Mesmo sob pressão do Congresso, recusou-se a delatar colegas. Morreu em 1952, aos 39 anos, deixando como legado final o thriller sombrio “He Ran All the Way” (1951).
Filmes da homenagem:
- “Four Daughters” (Michael Curtiz, 1938)
- “They Made Me a Criminal” (Busby Berkeley, 1939)
- “Dust Be My Destiny” (Lewis Seiler, 1939)
- “Pride of the Marines” (Delmer Daves, 1945)
- “The Postman Always Rings Twice” (Tay Garnett, 1946)
- “Humoresque” (Jean Negulesco, 1946)
- “Body and Soul” (Robert Rossen, 1947)
- “Force of Evil” (Abraham Polonsky, 1948)
- “The Breaking Point” (Michael Curtiz, 1950)
- “He Ran All the Way” (John Berry, 1951)
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com