Diretor Koji Fukada Comenta Cláusulas de Não Casamento no J-Pop em Estreia de “Amor em Julgamento” em Cannes

O que acontece quando uma pop star se apaixona? Na implacável indústria de idols do Japão, ela pode ser processada. Essa realidade chocante é o pano de fundo de “Love on Trial”, o novo drama do diretor japonês Koji Fukada, selecionado para o Festival de Cannes. O filme expõe as cláusulas abusivas de “proibição de namoro” que impedem os maiores astros do J-Pop de viverem romances. A produção marca a quarta colaboração de Fukada com a MK2 Films e a primeira com a gigante japonesa Toho, que divulgou em primeira mão um trecho exclusivo com a Variety.

O filme, que estreia na seção Cannes Premiere, acompanha Mai, uma idol em ascensão cuja carreira desmorona quando seu relacionamento proibido é descoberto. O caso vai parar nos tribunais, revelando o controle rígido que a indústria exerce sobre a vida pessoal de jovens artistas. “Tudo começou com uma pequena notícia que li na internet por volta de 2015”, conta Fukada à Variety. “Era sobre uma idol processada por sua agência após se envolver romanticamente com um fã. Fiquei chocado ao descobrir que o contrato dela incluía uma cláusula proibindo relacionamentos com o sexo oposto.”

O que era inicialmente uma crítica ao meio dos idols acabou se tornando uma reflexão sobre questões sociais mais amplas. “Ao explorar esse tema, pude mergulhar em problemas universais, como gênero e liberdade individual”, explica o cineasta. Para retratar o universo das idols com autenticidade, Fukada e o roteirista Shintaro Mitani – que escreve para um grupo de idols – realizaram pesquisas extensas, incluindo entrevistas com artistas e produtores, além de analisar processos judiciais.

Apesar de denunciar práticas problemáticas da indústria, Fukada evitou o sensacionalismo. “O filme não mostra os momentos mais dramáticos da queda social da protagonista em tempo real”, diz. “Isso replicaria a abordagem da mídia tradicional, que explora escândalos de celebridades como entretenimento.” Em vez disso, ele focou na dor silenciosa de Mai após perder seu status, sua transformação e as decisões que toma a seguir.

Para o diretor, a indústria de idols reflete problemas profundos da sociedade japonesa. “Ela é criticada por exigir imaturidade e pureza excessiva das jovens, idolizando-as enquanto nega autonomia e não tolera desvios”, observa. “Isso está enraizado em um país que consistentemente ocupa posições baixas no Índice de Desigualdade de Gênero – o pior entre as nações do G7.”

Embora “Love on Trial” seja mais politizado que obras anteriores de Fukada, como “Harmonium” ou “Love Life”, o diretor vê isso como uma consequência natural do tema. O elenco contou com audições incomuns para o cinema japonês, incluindo idols reais nos papéis de idols. “Elas trouxeram uma autenticidade única, especialmente a talentosa Kyoko Saito, cuja presença domina o filme”, destaca.

Fukada acredita que, apesar do contexto cultural específico, os temas do filme – disparidade de gênero, opressão e conflitos da indústria do entretenimento – são universais. Com a estreia em Cannes se aproximando, ele espera que a obra alcance um público amplo e sirva como um espelho para diferentes sociedades ao redor do mundo.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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