Lesley Stahl Desolada Pelas Turbulências na “60 Minutes”

Uma das correspondentes mais antigas do programa “60 Minutes” espera que a saída do principal produtor do noticiário seja suficiente para que a empresa controladora da CBS News devolva a independência ao tradicional jornalismo investigativo. Lesley Stahl, que trabalha no programa há 35 temporadas e na CBS desde 1971, afirmou em entrevista à Variety que a demissão de Bill Owens, apenas o terceiro produtor executivo na história do icônico programa, a deixou “devastada”. Segundo ela, Owens “representava tudo o que se poderia desejar em um chefe”.

Owens, que comandava o programa desde 2019, anunciou em uma reunião na terça-feira sua decisão de deixar o “60 Minutes” e a CBS News, citando a crescente incapacidade de “tomar decisões independentes baseadas no que era certo para o programa e para o público”. Sua saída ocorre em um momento delicado para a Paramount Global, controladora da CBS, que negocia sua venda para a Skydance Media – processo que pode ter sido complicado por uma ação judicial movida pelo ex-presidente Donald Trump contra o programa e a CBS. Ele alega que o “60 Minutes” tentou enganar eleitores ao exibir duas versões editadas de uma entrevista com a então vice-presidente Kamala Harris, sua rival na disputa pela Casa Branca. A CBS tentou rejeitar o processo, e especialistas jurídicos consideram a base da ação frágil.

Wendy McMahon, responsável pela CBS News, estações e operações de sindicalização, afirmou em um comunicado que a empresa “está comprometida com o ’60 Minutes’ e em garantir que sua missão e trabalho permaneçam prioridade”. Ela também mencionou que conversas com correspondentes e líderes seniores já começaram e continuarão nas próximas semanas.

De acordo com fontes próximas ao programa, a Paramount teria estabelecido mecanismos de monitoramento externo sobre os processos editoriais, colocando em risco a independência do noticiário. “Fui informada sobre interferências em nossos processos jornalísticos e questionamentos sobre nosso julgamento”, disse Stahl. “Não é assim que empresas donas de veículos de notícias deveriam agir.” Ela acrescentou que Owens “não conseguiu tolerar a interferência” e espera que sua saída sirva de alerta para os executivos. “Temos uma reputação a manter. É um dos motivos pelos quais a CBS News tem valor. É o que o ’60 Minutes’ representa, e não podemos perder isso. Já perdemos nosso chefe por causa disso. É devastador.”

Stahl tem histórico de defender publicamente o programa. Em março, ao receber um prêmio do setor, ela declarou que o “60 Minutes” estava “lutando por sua sobrevivência”. Uma produtora que trabalhou com ela por anos a apelidou de “Vovó Corajosa”. Stahl revelou que Owens incentivou a equipe a permanecer no programa e mantê-lo vivo. Tanya Simon, editora-executiva do “60 Minutes”, deve assumir interinamente e é cotada para suceder Owens. A CBS informou que buscará um novo líder dentro da própria empresa, e Stahl elogiou Simon, chamando-a de “uma grande profissional”.

“Espero que o sacrifício de Bill, como Scott Pelley definiu, envie uma mensagem e que mudanças sejam feitas”, concluiu Stahl.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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