Nos primeiros minutos da comédia da Apple TV+ “The Studio”, o personagem de Seth Rogen, Matt Remick, é promovido a diretor de um grande estúdio de cinema. Sua primeira decisão no cargo é acelerar a produção de um filme sobre Kool-Aid — a aposta bilionária do estúdio. Matt, um cinéfilo sonhador, acredita que pode convencer um diretor autoral a assumir o projeto. Em uma reunião com Martin Scorsese (interpretado pelo próprio Scorsese), o cineasta surpreende ao propor um filme original sobre o massacre de Jonestown, onde 900 pessoas morreram após ingerir Kool-Aid envenenado, sob o comando do líder da seita Jim Jones. Matt tenta então manipular a situação para fazer Scorsese acreditar que a ideia do filme de Kool-Aid foi dele desde o início. Obviamente, o plano falha miseravelmente.
O estúdio não consegue transformar um drama sombrio sobre uma seita (com Steve Buscemi no elenco) em um blockbuster de US$ 1 bilhão, muito menos associar a marca Kool-Aid a uma tragédia. Matt é obrigado a dar a má notícia a Scorsese: o filme não vai rolar. Pior ainda, como o estúdio comprou o roteiro, ninguém mais poderá produzi-lo. Scorsese inicialmente xinga Matt, chamando-o de “executivo sem talento e sem coragem”, mas, ao perceber que seu projeto está morto, o diretor de “Goodfellas” chora. Rogen e Evan Goldberg, co-criadores da série, escreveram essa cena crucial para estabelecer as apostas narrativas — especialmente em relação a Scorsese.
“As participações especiais tinham que ser de pessoas que cumprissem um papel muito específico na história”, explica Rogen à Variety. “No caso de Scorsese, era alguém com quem meu personagem faria qualquer coisa para trabalhar, alguém que ele tentaria encaixar a força em um projeto que claramente não combina, só pela chance de colaborar. E também tinha que ser alguém que você acreditaria que faria um filme sobre Jonestown. Scorsese foi literalmente o primeiro nome que veio à mente. Se você cresceu amando cinema na minha geração, ele é o cara.”
Rogen não tinha um relacionamento prévio com Scorsese, então ele e Goldberg enviaram o roteiro para o empresário do diretor e torceram. Ficaram “chocados” quando receberam uma resposta dias depois. “A primeira vez que o conheci foi no dia das gravações”, conta Rogen. “Foi surreal, bizarro e um presente incrível que ele nos deu.”
O desafio seguinte foi dirigir um dos maiores cineastas do mundo — sem avisá-lo que a série seria filmada em planos-sequência (tomadas longas sem cortes). “Foi assustador”, admite Rogen. “Além de dirigir Scorsese, estávamos filmando de um jeito extremamente desafiador para qualquer ator. Se ele errasse uma fala, teríamos que recomeçar tudo do zero.” Por precaução, a equipe escondeu uma segunda câmera em outro quarto do hotel, caso Scorsese reclamasse. “Não sei como justificaria artisticamente filmar essas cenas de forma diferente, mas na hora, o importante era não deixar Martin Scorsese bravo comigo”, brinca Rogen.
Felizmente, Scorsese topou o desafio e mandou bem. “Ele foi hilário e me deu um presente que eu não merecia, mas sou muito grato”, diz Rogen. Além de Scorsese, “The Studio” traz no elenco Catherine O’Hara, Kathryn Hahn, Ike Barinholtz e Chase Sui Wonders, além de uma lista impressionante de participações especiais. A série estreou em 26 de março no Apple TV+.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com