A Microsoft decidiu encerrar acordos para alugar seus data centers visando o treinamento adicional do modelo de linguagem ChatGPT, da OpenAI. A notícia pode parecer surpreendente, considerando a popularidade do ChatGPT, mas o campo da inteligência artificial é repleto de controvérsias—e por bons motivos. Os altos custos operacionais, retornos financeiros limitados, a crescente concorrência e até mesmo o desenvolvimento de sua própria demonstração de IA para o jogo Quake 2 (com resultados questionáveis) levaram a empresa a abandonar projetos equivalentes a dois gigawatts nos EUA e na Europa.
A IA pode ser uma ferramenta valiosa—desde máquinas que ajudam cientistas a descobrir enzimas capazes de decompor plástico até robôs que aprendem a andar sozinhos. No entanto, boa parte do que chamamos de “IA” hoje se resume a modelos linguísticos e geradores de imagens que consomem energia em excesso, muitas vezes treinados com dados não autorizados e que entregam resultados duvidosos. O ChatGPT se enquadra nessa segunda categoria, e, segundo a Reuters, parte significativa da redução de aluguéis da Microsoft está ligada à decisão de não apoiar cargas adicionais de treinamento para a OpenAI.
Modelos como o ChatGPT exigem data centers imensos, geralmente alugados por gigantes da tecnologia como a Microsoft. Manter essa infraestrutura tem um custo elevado, tanto financeiro quanto energético—especialmente em meio ao atual boom da IA. Além disso, essas instalações poderiam ser usadas para projetos com retornos mais atrativos. Embora os modelos de linguagem possam ser úteis se usados com moderação, há custos ocultos que os usuários finais não enxergam.
A Microsoft e seus investidores observaram que o retorno financeiro tem sido lento, enquanto modelos concorrentes, como o DeepSeek, da China, ganham espaço. O DeepSeek, uma IA mais econômica, vem atraindo atenção—inclusive de uma empresa de tecnologia fundada por um ex-CEO da Intel. Diante desse cenário, a retração da Microsoft no mercado de aluguéis de data centers não chega a ser uma surpresa.
Nos EUA, a Meta (controladora do Facebook) assumiu parte da demanda abandonada pela Microsoft, enquanto a Alphabet (dona do Google) fez o mesmo na Europa. A Reuters ainda revela que a Alphabet planeja investir US$ 75 bilhões em IA este ano—29% acima das expectativas do mercado. Já a Meta deve gastar até US$ 65 bilhões. Ambas, assim como a Microsoft, justificam os gastos como necessários para competir com rivais como o DeepSeek.
Apesar de recuar no suporte a treinamentos adicionais para o ChatGPT, a Microsoft afirma que manterá seu investimento de US$ 80 bilhões em infraestrutura de IA este ano. A companhia declarou que, embora possa “ajustar estrategicamente nossa infraestrutura em algumas áreas, continuaremos crescendo fortemente em todas as regiões”.
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em pcgamer.com.