Toda vez que você acessa um site, está firmando um acordo silencioso sobre o compartilhamento de informações. A página entrega o conteúdo que você solicitou, e em troca, coleta alguns dos seus dados pessoais. Pode ser apenas cookies de navegação, mas, com o avanço da publicidade direcionada, esse equilíbrio tem se tornado cada vez mais desigual, favorecendo quem realmente lucra com essa troca. Existem formas de se proteger, como a mulher que processou o Facebook por rastreamento em anúncios, mas na era digital, precisamos de soluções melhores.
MyTerms é o apelido de um documento criado pelo defensor da liberdade na internet, Doc Searls. Segundo o ArsTechnica, esse Draft Standard for Machine Readable Personal Privacy Terms propõe uma nova maneira de estabelecer os termos básicos da nossa navegação. Em vez de aceitar acordos individuais em cada site, o usuário pode definir previamente o que está disposto a compartilhar, criando uma base padrão para todas as interações online.
A ideia central é colocar o usuário no controle desses acordos, invertendo a lógica atual. Quem dita as regras é a pessoa, e os sites devem se adaptar a elas. Se uma plataforma exigir permissões além do configurado no MyTerms, terá que solicitar explicitamente — e aí o usuário decide.
Claro, ainda pode surgir o mesmo problema de hoje: abrir um site e ser imediatamente pressionado a conceder permissões extras, como já acontece com os pop-ups de cookies. Mas, ao menos, a referência inicial partirá de você, não da plataforma. Além disso, ao pedir algo além do básico, o site seria obrigado a justificar claramente o que deseja — nada de coletar dados sorrateiramente.
O documento está em desenvolvimento desde 2017, e uma versão completa deve ser lançada em breve. Se adotado em larga escala, poderá incentivar os usuários a preferirem sites que respeitem essas diretrizes. Se plataformas mais flexíveis ganharem popularidade pela facilidade, outras podem seguir o exemplo.
Porém, há um ar de utopia nisso tudo, já que, hoje, nós somos o produto. Dar esse controle aos usuários também pode aumentar sua conscientização. Atualmente, a maioria clica em “aceitar” sem ler termos de uso quilométricos, mais longos que a lista de compras do mês. A proposta é usar modelos como o Customer Commons (inspirado no Creative Commons) como base — mesmo sem entender tudo, soa mais confiável do que aceitar qualquer exigência aleatória de um site.
E, se definirmos primeiro o que permitimos, pelo menos teremos uma noção do que estamos cedendo.
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em pcgamer.com.