O compositor italiano Paolo Buonvino mergulhou na riqueza musical de sua Sicília natal para criar a trilha sonora da luxuosa série da Netflix O Leopardo, que vem conquistando fãs ao redor do mundo desde seu lançamento em março. A produção de época, uma das maiores apostas da plataforma na Itália, é uma releitura moderna do clássico romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, ambientado na Sicília. Com um pano de fundo histórico que retrata a revolução social da ilha nos anos 1860, a obra já havia ganhado vida no cinema pelas mãos de Luchino Visconti, em um filme estrelado por Claudia Cardinale, Alain Delon e Burt Lancaster — vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1963.
A série, dirigida pelo britânico Tom Shankland, traz a top model Deva Cassel (filha de Monica Bellucci e Vincent Cassel) no papel de Angelica Sedara, a mulher da classe média que desencadeia uma ruptura social, originalmente interpretada por Cardinale. O italiano Kim Rossi Stewart (Romanzo Criminale) vive Don Fabrizio Corbera, o Príncipe de Salina, papel que foi de Lancaster no filme, enquanto Saul Nanni (Love & Gelato) interpreta Tancredi Falconeri, o sobrinho do príncipe, antes vivido por Delon. Já Benedetta Porcaroli (Baby) dá vida a Concetta, a prima apaixonada por Tancredi.
Buonvino, conhecido por colaborar com grandes diretores italianos como Gabriele Muccino e Paolo Virzì, mergulhou em pesquisas etnomusicológicas para capturar a essência da Sicília. “Explorei canções, instrumentos e fontes históricas da época”, revela. Em entrevista à Variety, o compositor fala sobre o desafio de deixar sua marca nesse clássico italiano.
Você sentiu o peso da responsabilidade ao assumir esse projeto?
Sem dúvida. O romance é um clássico da literatura europeia, e como siciliano, quis fugir dos estereótipos. Além disso, há a adaptação icônica de Visconti, com a trilha de Nino Rota.
Como você capturou a essência da Sicília em sua música?
Queria que a ilha fosse sentida através da trilha, quase como um aroma. Também pensei na família do príncipe, seus laços com a burguesia e a nobreza, e no contexto histórico da revolução — tanto a campanha de Garibaldi quanto a ascensão social de Don Calogero Sedara, que desafia o poder da aristocracia. E, claro, há o misticismo em torno do príncipe e sua busca interior.
Como sua pesquisa musical influenciou a composição?
Destaco duas canções tradicionais: “Spunta lu Suli”, uma canção de amor cantada por uma mulher — algo raro na época — que reflete a paixão de Concetta e a relação do príncipe com a Sicília. E “Si Fussi Aceddu”, que encerra a série, simbolizando o desejo de amor não realizado de Concetta, mesmo quando ela assume o controle da família.
E a cena do baile, tão icônica no filme? Como você abordou?
Propus compor uma valsa original, não por ego, mas para capturar a essência da vida do príncipe. Queria que a música fosse catártica, como se ele revivesse sua história enquanto dançava. Quando mostrei a ideia a Tom Shankland, ele adorou — nossas visões coincidiram perfeitamente.
Esta entrevista foi editada e condensada para maior clareza.
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com