Rashida Jones e Tracee Ellis Ross Reagem à Ganância Corporativa em “Black Mirror: Gente Comum”

ALERTA DE SPOILER: Este texto contém revelações importantes sobre o episódio “Gente Como a Gente” de Black Mirror, disponível na Netflix.

Rashida Jones é uma atriz experiente, mas até ela teve dificuldade em dizer uma certa fala sem rir durante as gravações do episódio: “Deslize suave com o Lubrificante Thirst Trap”. E a situação ficou ainda mais engraçada porque ela precisou dizer isso enquanto encarava um Chris O’Dowd quase nu. Essa cena é apenas uma das várias situações hilárias do episódio, que também conta com Tracee Ellis Ross interpretando uma vendedora absurdamente otimista — mas cada vez mais sinistra —, uma personagem que ela mesma descreve como a “encarnação da ganância corporativa”.

Apesar dos momentos cômicos, “Gente Como a Gente” é um dos episódios mais sombrios de Black Mirror — e olha que a série já é conhecida por seu tom pesado. A história acompanha Jones como uma professora que descobre um tumor cerebral normalmente fatal. Porém, surge Ellis Ross como uma representante da Rivermind, uma empresa de tecnologia médica que oferece um procedimento experimental: fazer um backup da parte afetada do cérebro de Jones em seus servidores e, por uma assinatura mensal, permitir que ela continue vivendo normalmente. Parece mágica, mas como estamos falando de Black Mirror, há um preço obscuro por trás disso.

Jones e seu marido (O’Dowd) logo descobrem que a assinatura já absurdamente cara é apenas o nível mais básico de um novo sistema de preços da Rivermind. Para manter o serviço, são necessários upgrades cada vez mais caros, vendidos pela personagem de Ellis Ross como uma “evolução emocionante”. Quem não paga por esses pacotes adicionais começa a sofrer consequências bizarras: a personagem de Jones, por exemplo, passa a repetir propagandas involuntariamente. Ela anuncia cereais no café da manhã, fala sobre tênis da Nike para seus alunos e, no meio do ato sexual com O’Dowd, elogia as virtudes do tal Lubrificante Thirst Trap (“Disponível em seis sabores, nenhum deles baunilha”). E a situação só piora daí.

Enquanto a personagem de Jones fica cada vez mais desesperada e O’Dowd se humilha na internet para conseguir dinheiro, Ellis Ross responde com jargões corporativos vazios. A atriz diz que interpretou a personagem de forma séria, mas reconhece que o resultado foi “cômico e perturbador”. “Eu não estava tentando ser sinistra, mas é assim que soa. Só estava sendo honesta com alguém que também está presa no mesmo sistema que vende”, explica.

Jones descreve o episódio como uma “grande crítica à ganância corporativa e à manipulação das empresas”, mas também como um alerta sobre como cedemos partes de nossas vidas em troca de conveniência. “Aos poucos, abrimos mão de nós mesmos, seja assinando termos de uso sem ler ou passando horas grudados em telas. Essa é a essência de Black Mirror, reflete.

Quem lembra do episódio “Joan é Terrível” (da 6ª temporada) pode notar um paralelo: assim como naquela história — em que uma mulher descobre que sua vida virou uma série —, “Gente Como a Gente” parece cutucar a Netflix, especialmente com seu sistema de assinaturas por níveis. Jones brinca: “Não digo que essa não era a intenção do Charlie Brooker. Ele sempre provoca seus chefes, mas eles deixam — e isso é admirável”. Já Ellis Ross nem percebeu a conexão: “Nem pensei nisso. Fiquei tão chocada com a história que não parei pra analisar”.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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