O Schedule 1 é um jogo que transforma a rotina de um traficante de drogas amador em algo surpreendentemente mundano — e viciante. Pegar sacos de terra na loja de ferragens, regar plantas, reorganizar prateleiras e correr contra o tempo para entregar pedidos: tirando a ocasional encrenca com a polícia, a vida de um dealer virtual não é muito diferente de qualquer outro trabalho braçal.
E, no entanto, essa rotina aparentemente repetitiva nunca fica entediante. Mesmo depois de carregar a décima quinta remessa de sacos plásticos para meu apartamento decadente, o jogo — assim como minha última leva de maconha batizada de “Wedding Ass” — continua absurdamente viciante.
O mérito vai para a desenvolvedora TVGS, que acertou em cheio em várias escolhas de design: progressão constante, mundo aberto dinâmico, personagens expressivos, um sistema de oferta e demanda satisfatório e suporte a co-op desde o lançamento. Mas o verdadeiro trunfo do Schedule 1 está em seu sistema de crafting, que, ao contrário de muitos jogos do gênero, não é um mero preenchimento de menus.
Aqui, cada etapa da produção de drogas é prática. Desde montar pontos de entrega secretos até cultivar, colher e embalar a erva, tudo é feito em minigames interativos. Pode parecer trabalho repetitivo, mas quando cada tarefa vira um desafio, até regar plantas se torna divertido.
- Colocar terra? Minigame.
- Plantar sementes? Outro minigame.
- Regar? Mais um.
- Podar? Minigame.
- Embalar? Minigame também.
E não para por aí. Depois de embalar a mercadoria, ainda preciso listá-la, definir o preço e encontrar clientes. Com o tempo, eles começam a vir até mim, e aí surge um novo desafio: equilibrar a demanda com a produção. Nunca joguei um simulador de fazenda que exigisse tanto esforço para ganhar dinheiro.
É estranho dizer isso sobre algo ilegal, mas todo o trabalho que tenho para produzir um lote de “OG Kush” me enche de orgulho quando um cliente volta pedindo mais nove sacos. Ao mesmo tempo, fico sempre com a pulga atrás da orelha: será que estou cobrando pouco?
Agora, com a estação de mistura, as coisas ficaram ainda mais complexas. Posso combinar brotos colhidos com qualquer coisa que encontrar na loja de conveniência — Coca-Cola, analgésicos, enxaguante bucal. Minha criação mais famosa, a “Sexy Shart“, leva donuts no meio. O minigame de mistura é o meu menos favorito (basicamente, você joga tudo no liquidificador e aperta um botão), mas até aí há tensão quando tento segurar vários itens ao mesmo tempo e algum escapa.
Mas minha nova paixão é a estação de embalagem aprimorada. Uma peça de tecnologia linda, com um rotor central que agiliza o processo. O melhor, porém, é o novo minigame: agora, preciso girar as sacolas vazias com D e acertar o momento de apertar Espaço para lançar a erva dentro. Difícil? Muito. Mas é justamente essa atenção aos detalhes que faz Schedule 1 brilhar — enquanto outros jogos pulam etapas do crafting, este mergulha de cabeça na simulação.
Até agora, eu era uma fábrica de maconha de um homem só. Mas, com um dealer na folha de pagamento e pedidos que superam minha capacidade de produção, chegou a hora de contratar funcionários. Não sei se o jogo manterá o mesmo charme quando a maior parte do processo for automatizada, mas isso só prova que Schedule 1 é um simulador fiel. Você começa por amor ao ofício, mas, um dia, acaba virando um grande empresário.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em pcgamer.com.