Viaplay Content Distribution vendeu a série “A Life’s Worth” para a Espanha (EITB) e Grécia (Vodafone) antes de sua estreia no Series Mania, no segmento International Panorama. A série de seis episódios, dirigida por Ahmed Abdullahi, é inspirada nos desafios enfrentados pelo primeiro batalhão sueco da ONU enviado à Bósnia em 1993. Produzida pela Yellowbird em coprodução com Viaplay e Arte France, a série também foi licenciada para a Arte na França, Alemanha, Suíça, Bélgica, Luxemburgo e Áustria, enquanto a Viaplay detém os direitos para o restante do mundo.
“Os soldados suecos não foram obrigados a ir: eles se voluntariaram. Alguns precisavam de um emprego, outros buscavam uma aventura. Muitos nem sabiam do que se tratava aquela guerra. Eles acabaram recebendo mais do que esperavam”, disse Mona Masri, que coescreveu a série com Oliver Dixon. “A ONU é uma força de paz. Li em algum lugar que muitas armas nem funcionavam, porque não deveriam ser usadas. Mas logo perceberam que pessoas estavam sendo massacradas.”
Inspirada no livro homônimo do soldado da ONU Magnus Ernström – que atuou como consultor da série –, a produção precisava “parecer real” para quem viveu a guerra, admite Masri. E transmitir o sentimento de impotência desses indivíduos. “Quo Vadis, Aida? [drama de Jasmila Žbanić sobre o massacre de Srebrenica] mostrou isso muito bem: as pessoas não podiam fazer nada. O coronel da nossa série foi inspirado em uma pessoa real que não podia usar a força para proteger civis. Ele argumentava que não dá para conversar com alguém que está com uma arma: é preciso responder na mesma língua.”
Embora a Suécia tenha uma grande comunidade de imigrantes dos Bálcãs, Masri acredita que é crucial lembrar as pessoas sobre a Guerra da Bósnia. “Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, alguns disseram: ‘É a primeira guerra na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.’ Mas e os Bálcãs? É um conflito esquecido. Eu não queria usá-lo apenas como pano de fundo para uma ‘história sueca’, mesmo que seja uma série sueca.”
Johan Rheborg, que interpreta o controverso coronel, lembra dos eventos retratados na série. “Eu tinha alguns amigos que foram para lá. Mas as pessoas não falavam sobre nossa participação, e, para os políticos, era perigoso admitir que enviaram suecos para a guerra. Esses jovens, que foram como soldados da ONU… Não sei se esperavam acabar em situações tão graves. Acho que não.”
Segundo seu colega de elenco Erik Enge, os jovens soldados queriam “fazer a diferença”. “Era por isso que estavam lá. Agora, como fazer isso, bem, essa é outra questão. Eles não eram soldados treinados; não sabiam como lidar com o perigo. Na série, eles se olham e pensam: ‘O que fazemos agora?!’”
O elenco ainda conta com Edvin Ryding, Maxwell Cunningham, Toni Prince, Sandra Stojiljković e Johannes Bah Kuhnke. Embora “A Life’s Worth” possa ser vista como “provocativa” na Suécia, Rheborg observa que a atitude do país em relação a guerras e conflitos militares mudou. Em 7 de março de 2024, a Suécia se tornou membro da OTAN. “Naquela época, a Suécia era muito egocêntrica e cuidava apenas de seus próprios interesses. Não pensávamos que nos envolveríamos em outra guerra. Agora, todo o dinheiro vai para o exército. Será interessante ver como isso é percebido hoje.”
Enge concorda: “Quando isso aconteceu, a Suécia ainda se orgulhava de ser neutra. Era uma guerra complexa. Mas um dos motivos para enviar soldados da ONU [à Bósnia] foi porque a Suécia queria mostrar que podia fazer parte da comunidade europeia. Foi o primeiro passo.” Para Enge, respeitar os eventos reais foi “mais importante do que tentar entreter o público”. Ainda assim, como destacou Masri, histórias sobre conflitos armados não se resumem à violência. “É também sobre tentar comprar pão ou querer se casar. A vida continua. É incrível como nos adaptamos rapidamente”, disse ela, permitindo que houvesse cenas mais leves entre os personagens.
“A melhor maneira de lidar com o trauma e todas as coisas brutais que você vê é através do humor. Precisávamos permitir que esses personagens e os espectadores respirassem”, disse Enge, com Rheborg relembrando suas próprias experiências. “Quando você está sob pressão e com muita ansiedade, busca normalidade. Foi o que vivi na Tailândia, durante um tsunami. Quando acabou, estávamos sentados na varanda de um hotel. Todos em silêncio. De repente, alguém disse: ‘Alguém quer nadar?’ Todos começamos a rir. Não importa o que aconteça, você quer rir.”
Ele acrescentou: “Esses personagens não são juízes do que é certo ou errado. A única coisa que sabem é que um crime contra pessoas inocentes é um crime – não importa quem o cometa. Eles estão tentando encontrar um pouco de decência no caos.”
—
Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com