Jean-Stephane Bron Sobre a Série “O Acordo” e o Acordo Nuclear EUA-Irã

A série “The Deal”, produção expansiva da Gaumont que retrata as negociações nucleares entre Estados Unidos e Irã em 2015, conquistou o primeiro Buyers Choice Award no Series Mania – em parte, pela relevância geopolítica de seu tema. Mas a história por trás da criação da série é ainda mais interessante: o roteirista e cineasta suíço Jean-Stephane Bron, conhecido por obras como “Cleveland Contra Wall Street”, começou a desenvolver a trama há mais de seis anos.

Bron, que também produziu a série com a Les Films Pelléas (responsável por “Anatomia de uma Queda”) e a Gaumont, em parceria com a diretora francesa Alice Winocour (“Couture Française”, “Próxima”), revelou à Variety que o projeto foi inicialmente apresentado em 2018 em um concurso da emissora suíça RTS – que ele venceu. O roteiro, escrito por Bron, Winocour e outros colaboradores, foi finalizado nos últimos dois anos, após consultas a um diplomata envolvido na libertação de um jornalista refém durante as negociações. Bron também mergulhou em memórias de figuras como Wendy Sherman, ex-vice-secretária de Estado dos EUA e peça-chave no acordo nuclear.

A inspiração para “The Deal” veio de um artigo de jornal suíço sobre um chefe de protocolo – “aquele que nunca aparece na foto”. Essa ideia moldou a narrativa, centrada em Alexandra Weiss (interpretada por Veerle Baetens), uma diplomata suíça que media as tensas negociações entre Irã e EUA, repletas de agendas ocultas. Na vida real, essas discussões em Lausanne levaram ao Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) em 2015, mas o acordo foi abandonado pelo ex-presidente Donald Trump em 2018 – ironicamente, no mesmo momento em que surgiam notícias sobre uma possível reaproximação entre Trump e o líder supremo iraniano, Ali Khamenei.

Com um orçamento de €12 milhões, “The Deal” enfrentou desafios financeiros. A produção contou com investimentos de várias fontes, incluindo a Gaumont, que raramente entra em coproduções sem desenvolvimento interno. Para recriar o cenário das negociações, a equipe filmou em seis hotéis diferentes na Suíça e Luxemburgo – um deles, coincidentemente, o mesmo onde parte das reuniões reais ocorreram. Bron entrevistou funcionários do local para reconstruir detalhes como divisão de espaços e esquemas de segurança.

Apesar da base real, a série fictionaliza conflitos pessoais e nomes dos personagens. Alexandra Weiss, por exemplo, é uma criação inspirada em negociadores reais, enquanto os dramas do ministro das Relações Exteriores iraniano e da secretária de Estado americana (vivida por Juliet Stevenson) são invenções dramáticas. Bron destaca que o cerne da série está na complexidade das negociações: “Mostramos que eram discussões duras, exaustivas, com avanços e recuos constantes”. A linguagem, por vezes agressiva, reflete a pressão por um acordo antes do fim do mandato de Barack Obama, que via a diplomacia como uma vitória política e estratégica contra a influência de Rússia e China.

“The Deal” estreou mundialmente no Series Mania em 26 de março, com a presença de Bron, Winocour e parte do elenco, incluindo Arash Marandi (como o chanceler iraniano) e Fenella Woolgar. A série promete mergulhar nas zonas cinzentas da diplomacia, onde cada lado tenta entender até onde pode ceder – sem maniqueísmos.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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