Jon Hamm Transforma Milionário-Broke em Personagem Relativo: “É Como Robin Hood, Quase”

ALERTA DE SPOILER: Este texto contém spoilers do episódio de estreia da série “Seus Amigos & Vizinhos”, disponível no Apple TV+.

“Em momentos como esses… eu percebia o quão longe você pode se afastar da própria vida, sem realmente sair do lugar.” — Andrew “Coop” Cooper.

E é aí que está a lição de vida de Coop, o gerente de hedge fund ultra-rico de Nova York interpretado por Jon Hamm em “Seus Amigos & Vizinhos”, que estreou em 11 de abril. À primeira vista, é difícil sentir pena dele: após ser demitido do emprego glamoroso, ele só tem seis meses de reserva financeira para manter o luxo ao qual sua família está acostumada. Coitadinho, não?

A boa notícia é que Coop logo descobre um jeito de continuar ganhando muito dinheiro sem que ninguém perceba sua queda. A má notícia? Esse “jeito” pode trocar sua mansão por uma cela de 2×3 metros. Se for pego, o crime não compensa.

“É quase como Robin Hood — só que sem a parte de dar aos pobres”, brinca Hamm sobre Coop, que lucra roubando itens caríssimos de seus amigos e vizinhos milionários (daí o título da série). “Ele tem algo com que o público pode se identificar. Nem todo mundo se preocupa em pagar uma hipoteca de R$ 1,5 milhão ou consertar um carro de R$ 1 milhão, mas, tirando a escala, são problemas reais.”

Na visão de Coop, seu bairro está cheio de “babacas” com mansões “recheadas de tralhas caras” que não farão falta — e ninguém, nem a polícia, desconfiaria dele.

“Ele se engana dizendo que precisa alimentar a família, mas há diferença entre ‘alimentar’ e ‘manter todos em uma casa de 1.000 m²'”, diz o criador da série, Jonathan Tropper. “Ele não está pronto para admitir a derrota ou ser humilhado. Não quer que saibam que foi demitido, não consegue pagar as contas, mas também não abre mão do consumismo que sempre definiu sua vida. Os roubos são tanto uma forma de manter as aparências quanto um ataque ao sistema que o decepcionou.”

O monólogo interior de Coop é habilmente costurado nos episódios, revelando suas motivações e autoanálise — quase como se ele estivesse em terapia. Tropper queria que o protagonista “donasse” o ponto de vista da série, e os voiceovers foram a solução. “É uma ironia usar um recurso noir dos anos 60 em algo tão moderno”, explica. “O interessante é que, enquanto vemos a ação, ouvimos uma versão mais fria e distante dele, já refletindo sobre tudo.”

Hamm vê isso como uma autoobservação: “De certa forma, ele se dissocia do próprio eu — talvez para criar uma versão melhor de si mesmo. É assim que evoluímos. Ele tem autocrítica para perceber que está à deriva.”

Mas, além do dinheiro, será que Coop sente prazer no desafio e no perigo? “Não sei se é o perigo, mas sim o absurdo da riqueza acumulada naquele círculo”, pondera Hamm. “Há um prazer bizarro em ‘aliviar’ os outros desse excesso.”

Tropper complementa: “A trama de um gerente financeiro que vira ladrão é sedutora, mas a série é, no fundo, sobre família. Sobre a desintegração dela e sobre um homem que não superou essa perda. Antes de ser demitido, ele ‘perdeu’ a esposa — e ainda não entendeu que foi por priorizar coisas erradas. O perigo da riqueza não está no dinheiro em si, mas no tempo e energia que você dedica a ela, em vez das relações que realmente importam.”

Porém, como Coop descobre, mexer com o mundo crime tem consequências — e elas mordem de volta.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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