Essência do Cinema Africano: Lições do Festival de Joanesburgo e JBX Market

A sétima edição do Joburg Film Festival chegou ao fim no sábado à noite, encerrando uma semana movimentada que consolidou o festival e seu evento paralelo, o JBX, como iniciativas essenciais para o cenário cultural da África subsaariana. Timothy Mangwedi, fundador do festival, tem como objetivo transformar o evento em “o principal encontro de cultura pop e cinema da região”. Durante os três dias do JBX (Joburg Xchange), representantes da indústria audiovisual sul-africana e global discutiram colaborações transfronteiriças, debateram questões complexas como direitos autorais, inteligência artificial e direitos dos trabalhadores, e reforçaram a importância de manter as narrativas africanas nas mãos de contadores de histórias africanos.

Um programa especial em parceria com o Sisters Working in Film and Television (SWIFT) destacou os avanços das mulheres na indústria audiovisual sul-africana, ao mesmo tempo em que apontou os desafios que ainda persistem para alcançar a igualdade de gênero. Confira abaixo seis pontos-chave da semana em Joanesburgo, segundo a Variety:

Feito em Joanesburgo

O tema do JBX deste ano — “feito em Joanesburgo para a África e o mundo” — reforça o esforço de posicionar a cidade como um polo central para a indústria audiovisual sul-africana. Timothy Mangwedi, líder do festival, afirmou: “Queremos criar o principal evento de cultura pop da África subsaariana”. Seu objetivo é transformar o JBX em uma ferramenta para impulsionar a indústria de TV e cinema no continente. Apesar dos desafios locais, a Netflix reafirmou seu compromisso com os cineastas sul-africanos durante o evento, celebrando uma nova parceria com o festival. Ben Amadasun, vice-presidente de conteúdo da Netflix para o Oriente Médio e África, destacou a importância de Joanesburgo e da província de Gauteng para o crescimento da indústria cinematográfica local, citando produções originais da plataforma filmadas na cidade, como a série “GO!”.

Alerta na indústria sul-africana

Enquanto isso, cineastas sul-africanos estão preocupados com o sistema de reembolsos fiscais, que enfrenta atrasos nos pagamentos por parte do Departamento de Comércio, Indústria e Competição (DTIC). Esses atrasos têm levado muitas produtoras à beira da falência. A indústria de serviços de produção da Cidade do Cabo, no entanto, busca se adaptar, focando em oferecer custo-benefício competitivo globalmente. Marisa Sonemann-Turner, da Film Afrika, destacou que sua equipe está priorizando o valor agregado em vez de depender dos reembolsos. Apesar dos desafios, o otimismo persiste, como afirmou Nomsa Philiso, CEO de entretenimento da MultiChoice: “As pessoas estão muito esperançosas. Ninguém está desistindo”.

A sombra de Trump

O impacto da narrativa política global também foi tema no festival. A atriz e cineasta sul-africana Mmabatho Montsho criticou a “história revisionista” promovida por grupos como o AfriForum, que disseminam teorias falsas sobre um suposto “genocídio” de fazendeiros brancos na África do Sul. O cineasta Vusi Africa (“Surviving Gaza”) alertou sobre o perigo de narrativas distorcidas, enquanto o haitiano Raoul Peck (“I Am Not Your Negro”) condenou a administração Trump por desmantelar alianças globais e colocar vidas em risco.

Colaboração além das fronteiras

O JBX também buscou fomentar a colaboração pan-africana, mas há consenso de que muito ainda precisa ser feito. Terrence Khumalo, da Fundação Nacional de Cinema e Vídeo da África do Sul (NFVF), observou que muitos produtores africanos ainda priorizam coproduções com Europa e EUA em vez de colaborar entre si. Unathi Malunga, da Federação Sul-africana de Cinema (SASFED), destacou a importância de acordos como o Tratado de Livre Comércio Continental Africano para facilitar a colaboração transfronteiriça.

O desafio da inteligência artificial

A inteligência artificial foi outro tema central. A documentarista Thandi Davids alertou que a IA está chegando, e os criadores africanos precisam garantir que suas histórias e imagens façam parte desse futuro. No entanto, a regulamentação ainda é incipiente. Marc Schwinges, produtor, destacou que a revisão da lei de direitos autorais na África do Sul está parada há 18 anos, enquanto Tshepiso Chikapa-Phiri, CEO da Known Associates, expressou ceticismo sobre a capacidade dos legisladores de responder adequadamente aos desafios da IA.

Histórias africanas contadas por africanos

Jennifer Okafor-Iwuchukwu, ex-gerente literária da CAA, celebrou o sucesso de produções como “Classified”, da Prime Video, e “The Black Book”, da Nigéria, que alcançou o top 10 da Netflix em vários países. Ela enfatizou a importância de contar histórias autênticas, enquanto o diretor Vusi Africa exortou seus colegas a criar filmes que carreguem a esperança, a história e a identidade africana. “Temos uma grande responsabilidade de contar a história da África para o mundo”, disse ele.

O Joburg Film Festival aconteceu de 11 a 16 de março, consolidando-se como um espaço vital para o cinema africano e global.


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

Deixe um comentário