Diretor Guan Hu Adapta Ficção Científica do Autor de “O Problema dos Três Corpos”

O cineasta chinês Guan Hu revelou que está desenvolvendo adaptações de duas obras literárias de peso: “Interferência de Barragem de Espectro Completo”, do renomado autor de ficção científica Liu Cixin, e “Uma Frase São Dez Mil Frases”, do aclamado escritor Liu Zhenyun. A primeira, parte da coletânea “Para Sustentar o Céu”, mergulha em um cenário de guerra eletrônica entre uma Rússia comunista reerguida e as forças da OTAN, explorando uma corrida tecnológica desesperada. Já o romance de Liu Zhenyun, vencedor do Prêmio Mao Dun de Literatura em 2011, é uma reflexão profunda sobre a solidão que atravessa gerações na China rural, seguindo duas narrativas entrelaçadas: a de Wu Moxi, um homem solitário do início do século XX, e a de seu neto, Niu Aiguo, que, um século depois, refaz os passos do avô em busca de conexão humana.

Guan Hu, conhecido internacionalmente pelo épico de guerra “Os Oitocentos” (2020), também ganhou destaque com seu filme “Cão Preto”, premiado no festival de Cannes na seção Un Certain Regard e indicado a cinco categorias no Asian Film Awards, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Diferente de seus projetos de grande escala, “Cão Preto” é um trabalho introspectivo, estrelado por Eddie Peng em uma atuação quase sem diálogos. O filme aborda temas como isolamento, resiliência e a conexão entre humanos e animais.

Em entrevista à Variety, Guan compartilhou que a criação de “Cão Preto” foi um processo de recarga pessoal, especialmente durante a pandemia. “Fazer um épico como ‘Os Oitocentos’ foi exaustivo. Já ‘Cão Preto’ me permitiu acalmar e retornar ao que sinto, ao meu coração”, disse o diretor. Ele também revelou conexões pessoais com os temas do filme, lembrando de sua própria sensação de isolamento na juventude. “Eu me sentia marginalizado, como se não pertencesse à comunidade”, confessou.

No filme, Peng interpreta Lang, um homem que retorna à sua cidade natal no noroeste da China após ser libertado da prisão. Envolvido em uma patrulha para capturar cães abandonados antes das Olimpíadas de 2008, ele cria um vínculo profundo com um cão preto vadio. Essa relação entre dois seres solitários é o cerne da narrativa. Guan destacou que escolheu Peng para revelar uma faceta menos conhecida do ator. “Eddie é visto como um galã, mas ele tem uma inocência e uma quietude que não foram exploradas em seus filmes anteriores”, explicou.

Além disso, a experiência de Guan com seus cinco cães durante a pandemia influenciou o filme. “Passar mais tempo com eles me fez perceber uma conexão inexplicável entre humanos e cães”, refletiu. O diretor também finalizou recentemente outro projeto de grande escala, “Dong Ji Dao”, que dramatiza um incidente da Segunda Guerra Mundial em 1942, quando o navio japonês “Lisbon Maru”, transportando prisioneiros de guerra britânicos, foi torpedeado. Embora o documentário “O Naufrágio do Lisbon Maru”, de Fang Li, tenha sido a entrada da China no Oscar este ano, Guan ressaltou que seu projeto foi desenvolvido de forma independente desde 2014.

Apesar das mudanças nos hábitos do público devido às plataformas de streaming, Guan mantém-se otimista sobre o futuro do cinema. “Muitos estão pessimistas, mas eu acredito que o cinema não vai morrer. Ir ao cinema e assistir a um filme é parte fundamental da vida social”, afirmou. Ele também enfatizou que seu processo criativo não é guiado por prêmios ou reconhecimento internacional. “Nunca faço filmes com metas específicas. ‘Cão Preto’ foi uma expressão do que estava no meu coração. O resto, deixo para o destino.”


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

Deixe um comentário