O premiado com o Oscar Walter Salles, recém-chegado da vitória de “Eu ainda estou aqui” como Melhor Filme Internacional, destacou o impacto do drama político junto ao público jovem no Brasil e reforçou o poder do cinema como “uma ferramenta extraordinária de resistência” durante sua participação no workshop Qumra, realizado pelo Doha Film Institute, no Catar. O filme, que narra o desaparecimento do ativista Rubens Paiva durante a ditadura militar brasileira em 1970 e a busca incansável de sua esposa, Eunice Paiva, por justiça, marcou a primeira vitória do Brasil na categoria. Salles ressaltou que a obra foi “abraçada pelas novas gerações”, servindo como uma janela para um capítulo da história que muitos desconheciam.
“O filme se tornou deles”, afirmou o diretor, observando como jovens brasileiros se apropriaram da narrativa e a levaram para as redes sociais, compartilhando histórias pessoais e familiares sobre o período ditatorial. Quanto aos próximos projetos, Salles revelou que está editando uma série documental em cinco partes sobre o lendário jogador de futebol e ativista político Sócrates Brasileiro, com previsão de conclusão ainda este ano. “Ele nasceu na Amazônia, no Pará, então a série começa abordando a migração interna no Brasil, depois se transforma em um projeto sobre futebol e, por fim, como ele percebeu que o esporte poderia ser um veículo de transformação política”, explicou.
Em uma masterclass mediada pelo ex-diretor do New York Film Festival, Richard Peña, Salles revisitou outros marcos de sua carreira, como “Terra Estrangeira” — seu primeiro longa, que marcou o início da parceria com a atriz Fernanda Torres —, “Central do Brasil”, estrelado pela mãe dela, Fernanda Montenegro, e “Diários de Motocicleta”, com Gael García Bernal no papel de Che Guevara e um elenco repleto de atores não profissionais. Salles lembrou que o projeto surgiu de uma proposta de Robert Redford, que inicialmente adquiriu os direitos do livro para dirigir, mas depois o passou adiante: “Quero que um diretor latino-americano faça”. O cineasta só aceitou após insistir na necessidade de fidelidade à obra, incluindo a escolha de atores iniciantes e a jornada real pelas locações.
Redford, segundo Salles, concordou de imediato: “Ou fazemos assim, ou não fazemos”. No encerramento, Salles encorajou jovens diretores árabes a usarem o cinema como arma contra injustiças. “É uma forma de construir memória e impedir seu apagamento. Seja com um iPhone ou um longa-metragem, é uma ferramenta poderosa de resistência”, finalizou.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com