A mais recente edição do Work in Progress, a prestigiada mostra do festival Visions du Réel, apresenta seis documentários internacionais ousados em fase final de produção. Os projetos serão apresentados nesta terça-feira durante o fórum de indústria do evento suíço. Com temas que variam entre violência estatal, identidade queer, memória coletiva, resistência e resiliência – passando pela Chechênia devastada pela guerra, Gaza sitiada, as patrulhas antifeminicídio no Brasil e a cena underground de rodeio queer no México –, a seleção traz retratos marcantes e centrados em personagens de um mundo em transformação.
A lista inclui desde cineastas consagrados, como Hassen Ferhani (“143 Sahara Street”, “Roundabout in My Head”), que retorna ao VdR ao lado de sua produtora Eugénie Michel Villette (“Six Pieds Sous Terre”), até novos talentos que estreiam seus primeiros longas no festival. Todos os seis projetos são coproduções internacionais, com apoio de nomes como ARTE, CNC, Sundance Documentary Fund e o Bertha Fund do IDFA. A Variety conversou com as equipes antes das apresentações.
“Alea Jacarandas” (França, Argélia)
Dirigido por Hassen Ferhani, o documentário é um retrato poético e pessoal de Argel, revisitado após a morte repentina do pai do diretor. Inicialmente concebido como uma carta de amor à cidade, o filme se transforma em um diálogo entre passado e presente, entre literatura e cinema. “Ao aceitar sua ausência, entendi melhor sua paixão por Argel e sua resistência silenciosa. Acabei encontrando meu próprio lugar nessa história”, diz Ferhani. Produzido por Les Films du Bilboquet e Tact Production, o projeto busca financiamento adicional e parceiros para festivais.
“Medidas de Emergência” (Brasil)
Dirigido por André Bomfim, o filme acompanha a Patrulha Maria da Penha em Alagoas, uma unidade policial pioneira no combate à violência doméstica. Através da perspectiva de quatro agentes, o documentário explora os desafios e contradições do trabalho em um dos países mais perigosos para mulheres. “A polícia é um microcosmo da sociedade. Lutamos contra o mesmo machismo e preconceito que existem em toda parte”, afirma Bomfim. Produzido por Mira Filmes e Peri Productions, o filme busca vendas internacionais no VdR.
“In Cod We Trust” (Noruega, Finlândia)
Um retrato íntimo e bem-humorado de Båtsfjord, um dos vilarejos de pesca mais ao norte do mundo. Dirigido por Guro Saniola Bjerk, o filme captura a vida excêntrica dos moradores locais, unidos pelo bacalhau e pela natureza. “É um filme hilário, e quanto mais você conhece os personagens, mais engraçado fica”, diz a diretora. Com distribuição garantida em vários países, o projeto busca parceiros para um lançamento em 2025.
“Memória” (Rússia, França, Holanda)
Um trabalho autobiográfico e poético da diretora Vladlena Sandu, que revisita sua infância traumática na Chechênia em guerra. “A história deve ser escrita por testemunhas”, afirma Sandu, que precisou filmar clandestinamente em Grozny. Produzido por Mimesis e Limitless, o documentário busca parceiros para impacto social e lançamento em 2025.
“Jaripeo” (França, México)
Estreia dos diretores Efraín Mojica e Rebecca Zweig, o filme revela a subcultura queer escondida nos rodeios mexicanos, tradicionalmente hipermasculinos. “Quando digo que estou fazendo um filme sobre cowboys gays, as pessoas dizem que não existem. Mas é claro que existem!”, diz Mojica. Com apoio do Sundance Documentary Fund e ARTE, o projeto busca financiamento e festivais para 2026.
“Coloque Sua Alma na Mão e Caminhe” (França, Palestina, Irã)
Dirigido por Sepideh Farsi, o documentário acompanha Fatem, uma jovem fotógrafa em Gaza, capturando a vida sob o cerco israelense. “É uma jornada emocional sobre como seguir criativa em um país em guerra”, explica Farsi, que já foi presa no Irã. O filme busca parceiros para finalização e distribuição.
Os projetos serão apresentados em Nyon no dia 8 de abril. O VdR-Industry segue até o dia 9.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com