ALERTA DE SPOILER: Este texto revela detalhes importantes do episódio “Plaything” de Black Mirror, disponível na Netflix. Will Poulter já tinha ouvido rumores de que Colin Ritman — o excêntrico designer de jogos dos anos 80 do episódio interativo “Bandersnatch” (2018) — poderia retornar ao universo distorcido de Charlie Brooker. “Descobri uma entrevista em que Charlie sugeria que Colin poderia reaparecer porque, como o episódio mesmo indicava, ele era uma espécie de viajante no tempo”, conta Poulter. “Isso me deixou muito animado, mesmo sendo só uma possibilidade.”
Em “Bandersnatch”, as diferentes escolhas do espectador fazem Colin saltar no tempo (embora sempre dentro de 1983) e até mesmo ressuscitar após pular de uma sacada. “Mas eu não levei isso muito além — era só uma ideia interessante”, admite o ator. Até então, Black Mirror não fazia sequências. Pelo menos não até a 7ª temporada. Enquanto o retorno do episódio favorito da 4ª temporada, “USS Callister”, rouba os holofotes, Colin Ritman também reaparece em “Plaything”.
Ambientado 10 anos depois de “Bandersnatch”, em 1994, o episódio acompanha um novo projeto de Ritman chamado “Thronglets”, criaturas digitais que precisam ser alimentadas e cuidadas — uma mistura de Tamagotchi com Civilization. Ritman, ainda com seu cabelo loiro platinado (agora mais comprido), explica ao crítico nervoso Cameron Walker (Lewis Gribben) que não é um jogo, mas um programa para “melhorar a humanidade”, abrigando “as primeiras formas de vida com biologia totalmente digital”. Sem objetivos claros, as criaturas evoluem, replicam-se e formam uma “massa harmônica”.
Ritman aparece brevemente, mas em momentos cruciais. Depois de apresentar “Thronglets” a Walker em seu escritório, ele sai, deixando o CD ser roubado. Anos depois, em um futuro distópico, Walker (agora vivido por Peter Capaldi) dedica sua vida a expandir sua colônia de thronglets, conectando-se a elas por um implante no pescoço. Ao ser preso, ele usa o sistema policial para espalhar as criaturas digitais pelo mundo, declarando: “É uma evolução para todos nós, o fim dos conflitos!” enquanto estática toma conta do planeta.
Apesar do cenário limitado — basicamente um quarto e uma delegacia —, “Plaything” traz uma tensão global. “Parece que o futuro da humanidade está em jogo”, reflete Poulter. “E a mensagem sobre empatia, até mesmo com o digital, é poderosa.” O episódio também aborda a saúde mental de Ritman, que sofreu um colapso público entre “Bandersnatch” e “Plaything” — algo ainda mais estigmatizado nos anos 90. “Há uma crítica ali: o que é loucura, e o que é apenas uma verdade que as pessoas não entendem?”, questiona Poulter, que já falou abertamente sobre suas próprias lutas.
Para compor Ritman, Poulter pesquisou a cena de games dos anos 80, assistiu a documentários e até tentou aprender programação — sem sucesso. “Charlie me deu um livro enorme sobre código, e eu comprei um mais simples. Foi vergonhoso”, ri. “Tive que fingir que entendia aquela sopa de números e letras.”
Embora “Plaything” não seja interativo como “Bandersnatch”, a cena em que Ritman “permite” o roubo do CD ecoa a narrativa de escolhas do episódio anterior. “Ele quer que Walker tome uma decisão, como em Bandersnatch“, analisa Poulter. O ator também revela que nunca explorou todos os finais de “Bandersnatch”, mas observou amigos jogando. “É humilhante ver alguém escolher matar você”, brinca.
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com