Cannes: Chie Hayakawa Explora Perda e Infância na Era da Bolha no Japão

A renomada cineasta japonesa Chie Hayakawa, premiada com uma Menção Especial da Câmera de Ouro no Festival de Cannes por “Plan 75”, está de volta à Croisette com o novo filme “Renoir”, um drama de formação ambientado durante a bolha econômica japonesa no final dos anos 1980. A trama acompanha Fuki, uma menina sensível e peculiar de 11 anos (interpretada pela estreante Yui Suzuki), enquanto ela enfrenta um verão desafiador, lidando com um pai terminalmente doente e uma mãe sobrecarregada pelo trabalho. O elenco ainda conta com Hikari Ishida e Lily Franky em papéis essenciais.

A história de “Renoir” mergulha nas experiências pessoais de Hayakawa, que perdeu o pai ainda na infância. “Pensei em fazer esse filme desde a adolescência ou início dos meus 20 anos”, revela a diretora em entrevista à Variety. “Mas, se tivesse filmado naquela época, teria focado mais na criança, e o resultado poderia ter sido sombrio demais.” Hoje, com a maturidade de quem é mãe e viveu experiências similares às de seus pais, Hayakawa traz uma perspectiva mais compassiva. “Entendo melhor como os pais vivem e o que se passa em suas mentes. Minha visão do passado mudou.”

A escolha do ano de 1987 não foi aleatória. Hayakawa vê paralelos entre a euforia consumista da bolha econômica e a sociedade atual. “O Japão vivia um momento de crescimento desenfreado. As pessoas idolatravam a cultura ocidental, mas, no meio disso, perdíamos o que era verdadeiramente importante — como os laços familiares.” Um símbolo dessa época aparece no filme: uma réplica de uma pintura de Renoir, comprada pela família da protagonista. “Ela representa a admiração — mesmo que superficial — pelos valores ocidentais. Era algo falso, mas que satisfazia.”

Desta vez, Hayakawa ampliou suas colaborações internacionais, reunindo produtoras do Japão, França, Singapura, Indonésia e Filipinas. “Tive feedback valioso de produtores franceses e singapurianos. Além disso, técnicos de som franceses trabalharam conosco — foi uma troca incrível para a equipe japonesa.” Outro destaque foi a atuação natural da jovem Yui Suzuki. “Era minha primeira vez dirigindo uma criança, mas ela surpreendeu pela espontaneidade. Quase não precisei orientá-la.” Já Lily Franky, veterano no cinema, trouxe uma presença única. “Ele era exatamente o que eu imaginava para o papel. Até seu silêncio era cinematográfico.”

Com “Plan 75” e agora “Renoir”, Hayakawa explora personagens à margem da sociedade. Questionada se está construindo uma trilogia temática, ela pondera: “Me interessa a solidariedade humana — talvez continue nesse caminho.” Sobre o cenário do cinema japonês, a diretora se mostra esperançosa: “Novos cineastas estão surgindo, e estamos tentando mudar a indústria passo a passo.” Sua abordagem em coproduções internacionais, segundo ela, pode inspirar outros realizadores. “Ainda são poucos os japoneses que trabalham assim, mas acredito que meu caso mostre como é possível alcançar o mercado global.”


Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com

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