A apresentação de Lana Del Rey no Palomino Tent, durante o Stagecoach na sexta-feira, foi anunciada como um “set country especial” nos materiais promocionais do festival. Mas o que isso significava — e se realmente se encaixaria no que o público espera do gênero — era um mistério. Mesmo após os 65 minutos de show, a definição permanecia elusiva, já que nenhum rótulo simples conseguia capturar sua essência, além de algumas referências óbvias ao country. Mas era bonito? Sem dúvida. A beleza, mais do que qualquer coisa, continua sendo a marca registrada de Lana.
Havia rumores contraditórios sobre seu próximo álbum: seria country ou não? Ela chegou a sugerir que sim, depois negou, tudo antes de confirmar sua participação no maior festival country do Oeste. No Stagecoach, ela homenageou ícones como Tammy Wynette, cantando “Stand by Your Man”, e John Denver, com “Take Me Home, Country Roads”. Havia um steel guitar no palco, e a cenografia a mostrava balançando em um trapézio rural diante de uma cabana. Mas as novas músicas e os arranjos de seus clássicos não seguiam um padrão country tradicional. Era puro “Lanacore”.
Del Rey tem o hábito de incluir detalhes autobiográficos peculiares — e às vezes ousados — em suas letras, e o novo material não foge à regra. Nada causou mais surpresa (e risos) no Stagecoach do que a menção a Morgan Wallen em “57.5”, uma nova faixa cujo título vem do verso repetido: “Eu tenho 57,5 milhões de ouvintes no Spotify”. (Para contextualizar: hoje, ela tem 59,4 milhões.) Mas a linha que realmente arrancou reações foi: “Eu beijei Morgan Wallen…” O que? O público gritou tanto que abafou a frase seguinte — algo como “Acho que beijar-me subiu à cabeça dele”. Depois, ela completou: “Se quer meu segredo do sucesso, não vá de ATV com ele no Oeste.” Um detalhe talvez excessivo para os fãs, mas ela ainda citou Roger Miller na mesma música (sem revelar beijos, claro).
Apesar do momento descontraído, o tom geral do show foi sereno e melancólico, reminiscente de seu set no Coachella no ano passado — porém ainda mais lento e sem os momentos de energia no final. Lana não segue modismos; ela é fiel ao próprio estilo. De certa forma, sua apresentação lembrava a de Post Malone no Stagecoach em 2023: um pop star se aproximando do público country antes de lançar um álbum voltado para esse mercado. Mas as semelhanças param aí. Enquanto Malone mergulhou de cabeça no twang, Lana fez o oposto: trouxe o country para o seu universo.
O público no Palomino Tent cantou todas as palavras de seus hits — em volume de show da Taylor Swift —, mas eram claramente fãs devotos, não curiosos do festival. Já quem assistia em casa tentava decifrar as letras inéditas, como “Husband of Mine” (que abriu o show) e “Quiet in the South”. Esta última começou com trompas mariachi, depois evoluiu para um arranjo suave de piano e guitarra acústica, enquanto Lana questionava: “Devo acender a luz ou queimar a casa?”. Retórico, claro. Suas dançarinas fingiram molhar a cabana com gasolina, e projeções simularam chamas — mas tudo com uma calma quase surreal.
Depois de um interlúdio com a trilha de “Vertigo”, de Bernard Herrmann, Lana retornou de vermelho para uma versão campestre de “Summertime Sadness”. A transmissão online estava 50 minutos atrasada, deixando fãs desesperados por spoilers — alguns até acreditaram numa suposta dueta com Luke Combs, que na verdade foi com George Birge, um artista menos conhecido. Ela apenas fez backing vocal em “Cowboy Songs” e pediu para repetir o refrão a cappella, já que seu monitor não funcionava. Birge, nervoso, admitiu: “Meu coração está saindo pela boca.”
Outra participação veio das irmãs Secret Sisters em “Let the Light In”, harmonizando perfeitamente com seu sopro. “Um salve para o Alabama!”, brincou Lana, lembrando que estudaram com sua família. Apesar dos convidados “country”, o som flertou mais com orquestrações de salão de concerto do que com o sertanejo tradicional. Só no final, o quarteto de cordas virou fiddle em “Country Roads”.
Para alívio dos fãs, não houve forçação de barra nem caricatura do gênero. Foi um desvio sutil, como uma viagem tranquila por uma estrada rural. Ainda não se sabe como classificar essa nova fase — e talvez nem o álbum traga uma resposta definitiva. Por enquanto, basta deixar Lana assumir o volante. Afinal, se ela já beijou Morgan Wallen, por que não confiar nela para guiar essa fusão de estilos?
Setlist do Stagecoach (25/04/2025): “Husband of Mine”, “Henry, Come On”, “Stand by Your Man” (Tammy Wynette), “Cowboy Songs” (George Birge), “Ride”, “Video Games”, “Norman F***ing Rockwell”, “Arcadia”, “Let the Light In” (com Secret Sisters), “Quiet in the South”, “Bluebird”, “Summertime Sadness”, “57.5”, “Take Me Home, Country Roads” (John Denver).
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Este artigo foi inspirado no original disponível em variety.com